terça-feira, dezembro 12, 2006

QUEM SÃO OS ARTISTAS II - O RETORNO

Comentário assinado por “Artistas Piauienses” postado neste blog, protestando contra as considerações que fiz sob o título “QUEM SÃO OS ARTISTAS?” IPSIS VERBIS: “Caro jornalista nos artistas queremos saber quem é você para criticar a cultura piauiense. Nem daqui você é e nem acompanha a excelente administração da nossa presidente Sônia Terra. Valorizar a cultura é isto que ela faz. Você lembra do que um dia disse sobre o trabalho da nossa exelente artista Maria da Inglaterra, que se recusava acreditar que ela podia ser representante da cultura piauiense? Respeite os nossos artistas e vá estudar os verdadeiro significado de cultura para poder criticar quem se esforça para manter viva as nossa tradições.” Pelo visto os artistas piauienses, pelo menos os que assinam este comentário, necessitam urgentemente voltar para a escola. Escrevem mal e lêem pior ainda. Dizem que eu critiquei a cultura piauiense, que a desrespeitei. Ouviram-me falar preconceituosamente em Maria da Inglaterra. Quem leu a postagem “QUEM SÃO OS ARTISTAS?”, naturalmente quem sabe ler, interpretou que não há ali nenhuma crítica. Trata-se apenas de uma opinião contrária ao manifesto gratuito, marketing extemporâneo ou institucionalização do puxasaquismo. Os artistas querem saber quem sou eu para criticar a cultura piauiense. Seria um insano se o fizesse. Cultura para mim é um conjunto de características que se forma independente da vontade do homem, embora dependa do seu comportamento e do seu conhecimento, da sua formação intelectual. Mas garanto que posso, como cidadão piauiense, discordar e criticar a forma como ela vem sendo tratada e conduzida no Estado. Os artistas acharam-me preconceituoso quando disse, em uma palestra para formadores de opinião, que não aceito qualificar a compositora e cantora Maria da Inglaterra como “legítima representante da Cultura Piauiense”. Mantenho o que disse. O Máximo que se pode dar a ela é o título de rainha do folclore. É impossível ter um “legítimo” representante cultural cuja obra ninguém conhece, além do simplório Peru Rodou. Tenho a convicção de que assim trato o assunto com a dignidade e com a seriedade que ele merece. Maria da Inglaterra tem todo o respeito dos piauienses, e o meu particularmente, porque supera a deficiência do analfabetismo e se apresenta com altivez. Não busca a pena dos seus admiradores, mas o reconhecimento. E finalmente quero pedir com humildade aos artistas piauienses que não atribuam a mim as suas deficiências culturais. Eu não confundo cultura com folclore. Tampouco artes plásticas com artesanato.

sábado, dezembro 09, 2006

QUEM SÃO OS ARTISTAS?

A julgar pelo manifesto que está circulando, enviado para e-mails de jornalistas, Sônia Terra, presidente da FUNDAC, é uma unanimidade. Sou contra! Contra Sônia Terra, não. Sou contra a unanimidade. E também contra o manifesto, que começa assim: “Nós artistas nos reunimos...” Nós quem cara-pálida? O segundo parágrafo do manifesto, cujo título é "FICA SONHA TERRA", fez-me faltar o fôlego: “Nos últimos 4 anos houve uma sintonia a nível nacional e estadual entre o governo e artistas, escritores, tribos, quilombos, guetos, asfalto, ribeirinhos, sertões, salões performáticos, estúdios informáticos, periferias, parques, municípios, assentamentos rurais e espaços comunitários organizados...” Faltaram os "afins", nos quais me incluo. Portanto mais um motivo para ser contra. Como afins não fui consultado. Não sei onde encontrar os artistas de “asfalto, ribeirinhos, guetos, quilombos, sertões, parques, salões performáticos e informáticos”. Por isto liguei para o Sindicato dos Artistas para reclamar do preconceito contra os afins. Surpresa! Lá ninguém sabe de nada. E ainda ouvi a explicação de que o sindicato é contra este tipo de manifesto, "porque configura ação política para pressionar o governador por cargos". A mesma posição foi manifestada pelos sindicatos dos músicos e dos escritores. Vou continuar procurando quem são os artistas que assinaram esta peça... digamos assim, performática. Considero Sônia Terra uma das melhores coisas que aconteceram nos últimos quatro anos no Piauí. Ela é inteligente, esforçada, alegra, sincera e sua dança no Coisa de Nego é uma revelação. O mesmo não se pode dizer da voz, quando canta. Mas quem liga pra esse detalhe quando pode ver uma negra linda fazendo gingado e resgatando o melhor da cultura brasileira?
Sobre o trabalho como presidente da FUNDAC, nada posso dizer porque não acompanhei de perto. Mas posso apontar falhas, se me derem tempo. Como já falei por diversas vezes sou um especialista em opiniões. E quando é para ser do contra sou imbatível.
(Postado sem revisão final)

quinta-feira, novembro 30, 2006

PREVISÕES PARA 2007

Vez ou outra acordo invocado e tenho visões premonitórias. No fim do dia, ou de um certo tempo determinado, as coisas acontecem do jeitinho que vi na minha síndrome de pai-de-santo. De babalorixá. De mãe Diná, como já ficou provado na época da Copa do Mundo de Futebol. E nem preciso de cartas ou búzios. É só na base da invocação mesmo. Há uma semana venho sendo acossado para dizer alguma coisa sobre 2007. Será um ano bom no frigir dos ovos. Até julho com certeza o presidente Lula vai navegar em águas mansas. Vai ser uma mãe com as oposições, distribuir benesses aos tortos e à direita, insuflando insatisfações na esquerda. Depois daí salve-se quem puder. Sem crescimento econômico e com uma inflação lambendo os fundilhos dos erros de campanha, o bicho vai pegar. Na economia o país vai ter reboliço a partir logo de abril. Greve na educação e na saúde. Início das insatisfações no governo. E o PT vai ser o carro chefe das intrigas que vão estourar no segundo semestre. O Brasil vai sofrer muitas restrições aos seus produtos de exportação e o superávit corre o risco de ir ao beleléu. No primeiro ano do novo mandato dois ministros serão defenestrados. E mais um vai prestar contas com o Senhor. Não está claro se o senhor dos Céus ou do Inferno. Também está um pouco nebuloso se é ministro, auxiliar direto ou amigão do presidente. Mas é certo que alguém muito influente vai bater as botas. E por falar nisto o Piauí também vai se comover com a morte de um líder político em 2007. Mas não vai fazer falta. Ele já está na hora de descansar. Wellington Dias vai começar o ano com duas ou três cartas na manga, mas vai quebrar a cara antes do final do primeiro semestre. Isto porque vai nomear dois auxiliares trapalhões. Um é amigo do peito. O outro sairá das forças políticas que gostam de minar o terreno. O calcanhar de Aquiles dos dois governos do PT, no Brasil e no Piauí, será a segurança pública. Alguém vai deixar de cumprir os acordos com os bandidos e aí vem a reação. No Piauí o novo secretário, que não sabemos ainda quem é, pode largar o cargo no meio do caminho. Vejo também que vai assumir em meio a muitas manchetes de factóides. Vai se notabilizar pelo que diz e não pelo que faz. No Piauí muito desentendimento entre os poderes Legislativo e Judiciário. Mas no fim os dois vão se entender e todo mundo comemorar. Dois escândalos se ensaiarão e até dossiê vai ser distribuído contra gente do Governo. Este também é um ano de harmonia entre Estado e Município. Mas na virada de 2007 vai aparecer um ciumento para estragar tudo. Alberto Silva não vai conseguir terminar o curral do Albertão. Nem o metrô. E a Poticabana corre o risco de virar depósito de lixo. A mamona vai fazer água ao invés de biodíesel.
Mas tudo isto é muito óbvio, dirão os expertises em política e economia.
Eu respondo: a obviedade é um fascínio.

terça-feira, novembro 21, 2006

SOU UM ANIMAL PREDADOR

Aconselhado pelo amigo e leitor Willian Tito* visitei o site http://www.institutoninarosa.org.br/. Os propósitos da instituição são lindos. Há bons textos, bons conselhos para a defesa dos animais. É também voltado para a educação alimentar baseada em vegetais. O Tito garante que após ver o documentário “A Carne é Fraca”, produzido pelo site, com imagens fortes de abate de animais, mudou radicalmente os hábitos e até perdeu quase dez quilos. Eu acredito. Também vi o documentário e tive uma reação oposta. Abri o apetite para carnes de vitelo. São bezerrinhos criados com todos os cuidados para ter a carne macia e saborosa. São abatidos aos três meses de idade, no máximo. Selecionei até uma carta de vinhos para acompanhar pratos de vitelo com os mais diversos molhos. Acho que vai melhor com molho de shitake e combina com um tinto de variedade Cabernet. Como dizia, há excelentes argumentos no site mas há também espaço para pieguices, de acordo com a minha avaliação predadora. Tem um texto, por exemplo, condenando matar animais para comer com a justificativa de que eles foram criados para este fim. E arremata: “Se assim fosse, também poderíamos criar seres humanos para o sacrifício e seriam mortes justificáveis” Dá até vontade de aplaudir a “excelente idéia”. Só assim o homem deixaria de matar animais. Com a vantagem de que com a diminuição da espécie estariam resolvidos todos os problemas ecológicos. E de quebra os sociais também. Tem um outro trecho que condena os hábitos alimentares dos chineses assim: “Na China, o “melhor amigo do homem” é uma iguaria. Lá, como aqui, os cães são criados normalmente entre os homens e, quando o dono decide comê-lo, basta assobiar. O dócil amigo se aproxima, recebe uma forte pancada na cabeça e vai direto para a panela.” Totó na panela? Isto é inadmissível, uma aberração. Falta de sensibilidade culinária. Carne de cachorro combina mais com churrasco ao sal grosso ou chapa. Marinada em ervas picantes, então, deve ficar uma finura de prato. Eu já desconfiava que chinês só sabe comer ensopado. Afora outras afirmações obvias o site tem um trecho dizendo que peixe também sente dor. Que todo ser vivo sente dor. Um boi chora quando vai para o abate. Eu poderia fazer como o amigo Tito. Partir para uma alimentação mais vegetariana. Mas peraí. Vegetal também não é ser vivo? Pior que isso. É vivo e indefeso. Já pensou cuidar de um pé de brócolis, de alface, ou cenoura com todo o carinho e num belo dia, sem precisar nem assoviar para chamar, vai lá e degola o bichinho? Prefiro portanto os animais que podem correr, se esconder. Azar do totó chinês que se entrega ao abate em troca de assobio. Sou um predador e a minha consciência é animal. Mas o Tito está também corretíssimo. Alguém precisa, como já disse para ele, ter uma melhor consciência humana. Quanto ao site o classifico como mais uma ferramenta inocente onde os contaminadores interesses internacionais encontram espaço para ladainhas. O Brasil não pode parar economicamente. Tem que aumentar a produção de bois, carneiros, porcos, peixes, aves, caranguejos e lagostas para colocar no mercado ávido por carnes.
(*Willian Tito é jornalista, ator, autor, escritor, agitador cultural e ecologista. Mantém o blog forumdearteculturadopiauí.blogspot.com.)

terça-feira, novembro 14, 2006

O BRASIL É RECORDISTA EM PUNS

Descobri, entre incrédulo e desconfiado, que o Brasil será a nação responsável, no futuro, pelo fim do mundo. Isto mesmo, o fim do Universo. E a principal causa será o PUM das vacas. Não é brincadeira. Os cientistas do mundo todo é que estão dizendo isto. Um bezerrinho, da hora em que nasce até o momento do abate, criado em escala de consumo, com alimentação forçada para ficar logo pronto, produz nada menos que cinqüenta quilos de metano em puns. Provavelmente entre bufinhas e sonoros, penso eu. Os cientistas mediram, calcularam e garantem que o Brasil terá no futuro a melhor participação neste campeonato. É a Nação com maior perspectiva de crescimento na criação de gado, porque tem terras e condições climáticas. Calcularam também os puns dos porcos e das aves. Haja gás metano na atmosfera.. Uma criação de porcos, por exemplo, com cem mil animais, produz, além das bufas, material de esgoto correspondente a uma cidade de um milhão de habitantes. O problema aqui já é de fezes e não simplesmente de puns. Outro dado interessante: a produção de um simples quilo de carne bovina consome cinqüenta mil litros de água. Todos estes dados interessantíssimos foram divulgados no programa Invenção do Contemporâneo, que vai ao ar às segundas-feiras pela TV Cultura. O Tema de ontem foi A ignorância do futuro. O jornalista Washington Novaes mostrou e convenceu de que forma as mudanças climáticas ocorridas no mundo, e especialmente no Brasil, estão criando novas formas de relacionamento. O mundo, segundo o jornalista, tem que modificar todos os conceitos de exploração dos recursos naturais. E essas mudanças precisam ser repensadas estrategicamente por todos os países. Como todos os meus amigos sabem sou um anti-ecologista. Não dou a mínima para o alarde que eles fazem quando se voltam para uma causa. E vivo muito mais desconfiado ainda porque o Brasil tem sido a maior vítima deles. Volta e meia sai uma grande novidade e o Brasil é o vilão. Claro que o jornalista Novaes tem panos pra manga. Ele é colunista do jornal O Estado de S. Paulo, supervisor do programa Repórter Eco e consultor de meio ambiente da TV Cultura. No programa de ontem apresentou apenas o estudo dos cientistas, sem tecer qualquer comentário. Mas eu sou especialista em generalidades e como tal tenho opinião para tudo. Portanto posso dizer que essa mania de ecologista contar pum de vaca não passa de argumento para ficar contra o progresso do Brasil. O que eles querem é alardear que o Brasil está destruindo a floresta amazônica para criar gado, que isto está errado. Errado é não se desenvolver economicamente. Se querem contribuir devem cobrar dos cientistas a invenção de umas gotinhas contra flatulência dos rebanhos bovinos.
Outro questionamento que podemos fazer é por que nunca ninguém se preocupou com os carneiros da Irlanda. Quando eu era criança aprendi, logo nas primeiras aulas de ciência, que dentre todos os mamíferos o carneiro é o mais peidão.

terça-feira, outubro 31, 2006

CELULAR CLARO. A VIDA POR UM CHIP

Acredito em slogans. Principalmente quando são bem pensados. O da operadora de celulares Claro, por exemplo, é um primor: “Claro, a vida na sua mão”. Quem tiver uma linha celular Claro e precisar de alguma forma dos serviços só não comete o suicídio se estiver muito bem resolvido emocionalmente. Falo com o conhecimento de quem passou pela experiência. Vou tentar resumir o martírio de que fui vítima. Dia 15 de setembro, em Brasília, verifiquei a falta de sinal no meu aparelho. Fiz a primeira ligação para o atendimento. O número é 1052, de qualquer telefone, segundo a Claro. Depois de intermináveis segundos ouvindo instruções teclei o 9, para falar com um atendente: - Bom dia, meu nome é Fulana, com quem eu falo? - Bom dia Fulana. Meu nome é Marcus. - Senhor Marcus qual o número de seu telefona com o código de área? - Pois não. Meu número é... (passei o número) - Mas este não é o telefone que o senhor está usando agora! - Claro que não. Ele está com problema e não consigo ligar. Estou fora da minha área de cobertura e está aparecendo uma mensagem que o cartão SIM não foi reconhecido. - O senhor lembra se mexeu no PIM do telefone? - Como assim? O que é PIM? - PIM é um código que o senhor recebe. O Senhor mexeu? - Não devo ter mexido porque nem sei o que é. - O senhor lembra se o aparelho pediu para digitar o PIM ou o PUK em algum momento? - Uai, moça, e o meu telefone faz isto? - Senhor esses são códigos de segurança. - Desculpa. É que não entendo muito bem dessas coisas. Mas como eu posso encontrar esse PIM e esse PUK? - Estão no cartão do seu chip senhor. - Mas eu não tenho chip senhorita. (aqui já começava a irritação natural de quem é sabatinado com uma linguagem difícil de compreender) - Sei, senhor. Mas seu telefone tem um chip. Por favor retire e coloque o chip novamente para ver se volta ao normal! - Mas tirar o chip de onde, moça? Eu nem sei se o celular tem um chip. - Qual é a marca do celular, senhor?
Desesperado, recorri a uma saída honrosa: - Eu posso levar o aparelho em um posto da Claro? A única coisa que sei de celular e fazer e receber ligação e colocar para carregar. - Fique à vontade senhor. Se não der certo o senhor volta a ligar e a Claro agradece por o senhor ter ligado... Terminei a conversa com um gosto de derrota. Como pode? Uso celular há tanto tempo e nem sabia que tinha um PIM, um PUK, um chip? Devia recorrer ao meu neto, que tem quatro anos de idade. Mas como estava distante dele o jeito foi ir a um posto de atendimento mais próximo me informar. Aprendi tudo sobre a nova tecnologia GSM. Descobri também que a bateria é móvel e que tem um chip embaixo. A única coisa que não deu certo foi retornar os serviços no aparelho. Deixei para resolver o problema em Teresina. Dia 19/10, sentindo-me em casa, minha arena, fui à loja Claro. Serviço Autorizado, com garantia. Certeza que tudo seria resolvido no ato. Pra começar entrei numa fila concorrendo à atenção de uma funcionária da informação com mais onze pessoas. Quatorze minutos de espera. Quando cheguei lá que iniciei a conversa a mocinha digitou alguma coisa, puxou uma senha e pediu gentilmente que eu aguardasse a chamada sentado. Ih! Mau sinal. Esperar sentado é mau agouro. Tudo bem. Comportei-me como quem não tinha mais nada a fazer e aguardei trinta e seis minutos sentadinho, olhando os folhetos de propaganda de telefone e aprendendo os milagres das novas tecnologias. Celular também serve para fazer fotografia, gravar conversa do vizinho, mandar e-mail. Sobre PIM e PUK, nada! Minha vez! - Bom dia, moça. Eu estou sem comunicação no meu aparelho desde o dia 15 e só aparece esta mensagem aqui na tela quando eu ligo. - Ah senhor. O seu chip queimou. O senhor vai bem ali naquele balcão. Levanta qualquer um dos terminais fixos e fala direto com a Claro. - Mas eu já fiz isto e não consegui me entender com a moça porque entendo pouco da linguagem tecnológica. Você pode me instruir de como vou me comportar agora? - Diga apenas que o seu chip está queimado e quer autorização para trocar. Depois que o senhor tiver a autorização, peça o número do protocolo que a gente providencia rapidinho. - Muito agradecido. Você foi muito gentil. Obrigado mesmo, viu? - Não por isto, senhor. É um prazer poder ajudar. Fui ao telefone, falei com a moça do 1052, depois das chateações iniciais de ouvir as instruções e passar o número do telefone etc. etc. - Ocorre que meu chip queimou, segundo o pessoal aqui da loja Claro, onde estou no momento. Você pode me dar uma autorização para troca e o protocolo? - Qual é o número do seu chip novo senhor? - Como meu chip novo? Eu só tenho o queimado. - Mas eu só posso lhe fornecer autorização se o senhor já tiver comprado um chip novo. - Mas moça aqui na loja disseram que eu tenho que ter uma autorização para trocar o chip depois. - Desculpe senhor. Mas autorização só é possível depois que o senhor tiver o número de um chip novo. O senhor compra e depois liga para nós, sim? - Desculpe a insistência, senhorita. Mas aqui na loja Claro me disseram o contrário, Você pode me dizer por que essa divergên... - O senhor compra o chip a liga. Obrigado por ter ligado, tenha um bom dia. - Desculpe a insistência... Voltei ao balcão de informação da loja. Reclamei da instrução mal passada e a moça mesmo sem querer reconhecer que havia se enganado, autorizou a compra. Deu-me uma nova senha para entrar na fila do atendimento de venda. Após mais quinze minutos consegui chegar lá. Comprei o maldito do chip virgem e tive a primeira visão da coisa. Um cartão do tamanho de um cartão de crédito, com um cartãozinho interno picotado, para ser destacado. Tipo um comprimido de medicamento na sua cartela. Aperta do lado aposto que sai. Olhei, li as instruções. Descobri finalmente onde estavam o PIM e o PUK no novo chip e fui contente para casa, de onde planejei restabelecer a linha do meu inseparável celular... Agora já um pouco abandonado. Sim porque depois de cinco dias descobri que se pode viver sem esse aparelhinho miserável que cria dependência. Que nem droga... Ah e por via das dúvidas já experimentei e traguei. Só que não gostei. Banhado e arejado, deitado em uma rede cheirosa, liguei novamente para o já fatídico 1052. - Fulana falando, bom dia. Com quem eu falo? - Meu nome é Marcus - De-me o número de seu celular com o código de área, senhor? Passei o número conforme o pedido. - Em que posso ajudar? - O chip de meu celular queimou e eu já falei com vocês aí para comprar um novo chip. Estou com ele aqui na mão e quero instalar. - Por favor me dê o número do protocolo, senhor. - Mas que protocolo? - Quando o senhor falou a primeira vez com a Claro alguém fez um protocolo. O senhor pode me passar o número? - Não posso porque não tenho. Disseram-me para comprar o chip e depois ligar. - Sei, senhor, mas foi aberto um protocolo e o senhor não deve ter pedido o número. - E como eu faço agora, se não tenho esse número? Se fui instruído diferente? - Sinto muito, senhor. Para eu estar verificando o problema tenho que ter o protocolo. - Tudo bem, moça, por eu estar de saco cheio vou estar desligando. Depois eu vou estar ligando novamente para estar sendo atendido por outra pessoa. A que horas a senhorita não estará aí para que eu não esteja correndo o risco de ser atendido novamente pela sua má vontade? (Perdi a calma? Experimenta falar com o 1052) - Desculpe, senhor, a Claro agradece a sua ligação... As atendentes são irritantemente bem educadas. Não mudam o tom. São robotizadas. Não perdem a postura. Quanto mais desesperado o cliente, mas formais elas ficam. Dei-me conta que estava sendo deselegante, me acalmei e mudei a estratégia na próxima ligação. Antes de qualquer pergunta da atendente já me identifiquei, dei o número do celular com problema, disse que já havia comprado o chip por recomendação da Loja Claro em Teresina e que estava ligando apenas para habilita-lo. Ofereci inclusive o número do maldito. E foi aí que ouvi a pergunta que me fez ficar de excelente bom humor: - O senhor está ligando deste celular ou de outro número? - Como? Ah, por favor aguarde um instantinho que eu vou verificar... - Desculpe a espera. Agora que eu vi que estou ligando de um celular emprestado. O meu, como já lhe disse, está com problema. E é disso que estava falando. Mas não ligue, por favor. Eu sou mesmo muito distraído. - E em que posso ajudar, senhor? - Que bom que você perguntou, moça. Como já falei, eu troquei o chip do meu aparelho (dei o número novamente) e a loja Claro em Teresina mandou eu ligar para vocês aí para registrar o novo chip. - Certo senhor. No verso do chip tem um número. O senhor pode me passar? - É o mesmo do código de barras. Pode ser o do código, para eu não ter de abrir de novo o aparelho? - Não senhor. Por favor leia o número no próprio chip. Passei o número, repeti e pedi confirmação. E perguntei já comemorando, a que horas poderia ter meu celular de volta. Triste resposta. - Senhor, por medida de segurança, o seu celular será reabilitando em até setenta e duas horas. O senhor me passa um número de linha fixa para que a Claro possa estar confirmando seus dados e os dados de seu aparelho? Passei prontamente o número da linha fixa e nem notei que SETENTA E DUAS horas era tempo grande, que correspondem a cinco dias virados na meia noite. Achei que era só formalidade, também medida de segurança. Só estava mais interessado, agora, em obter, desesperadamente, e antes que ela desligasse, o número do protocolo. Consegui! Claro que nem vou encher o saco de ninguém narrando aqui as diversas ligações que fiz para o 1052, abanando o protocolo reclamando da falta de compromisso da Claro com o seu cliente mais exemplar, no caso eu. O certo é que ontem, dia 30 de outubro, ao verificar cedo que o serviço ainda não havia retornado, decorridos dez dias do momento em que coloquei o novo chip e consegui o número do protocolo, desisti da Claro. E também de ter a vida em minha mão. A vida pertence a Deus segundo a religião católica. Não fica bem desistir dela tão facilmente.
Estou saltitante, alegre e satisfeito com um novo telefone à mão. Da VIVO, para confirmar que sobrevivi. Pelo menos até quando precisar trocar o chip, ou outra rebimboca qualquer. Nem sei se tem coisa mais moderna que o chip... vai lá que tenha e eu já esteja desatualizado!

terça-feira, outubro 24, 2006

UM OLHAR SOBRE TERESINA

Coisa boa é ser dono do nariz. Trabalha-se no dia que quer, acorda-se na hora que o organismo liberar. O ruim é a falta do que fazer nas horas seguintes. Se bem que livros podem muito bem eliminar o vazio entre o acordar e a hora do almoço. Esta foi a minha experiência das últimas duas semanas, na folga que me permiti para recuperação do voto. Ou melhor, das eleições. E nesta folga, como não podia ir muito longe, passei uma semana andando – de carro que é menos cansativo, por Teresina. Fiz um reencontro com os tempos de repórter, quando me gabava de conhecer a cidade de ponta a ponta. Me perdi. Impressionante como a cidade cresceu em todas as direções. Tentei fechar os olhos para o feio. Ver apenas o belo, com o espírito poético. Juro que não consegui. Claro que a cidade é bonita, não há negar. O feio fica por conta da falta de sensibilidade do poder público, juntada aos interesses eleitoreiros e às desculpas de não se querer criar problemas sociais. Veja-se, por exemplo, a situação da margem do rio Parnaíba, em toda a extensão da avenida Maranhão. Por mais que a se plantem árvores e planejem urbanização há sempre um desempregado reivindicando a sombra para trabalhar como autônomo. A avenida é hoje um imenso lavatório de carros. Os lavadores, depois que conseguem ligar energia elétrica para as improvisadas máquinas, escolhem também a decoração da área ocupada. Existem lá tendas de palha, de molambo, de restos de propaganda eleitoral, de latas, de zinco ou plástico. O estilo é marmota, uma grande criação popular. Tudo bem que amanhã ou depois o poder público, se tiver coragem, pode dar um basta na farra. Só não vai poder, com tanta facilidade, é acabar com o monstrengo do elevado do metrô de Teresina, onde estão enterrados alguns milhões de reais. Aquilo, sim, é um atentado ao bom senso, à ecologia. É ainda mais nefasto porque é um monumento ao desperdício do dinheiro público. É um prêmio ao político desonesto. Arrisco dizer que nunca será concluído, que nunca haverá trens para utilizar o monstrengo. Mas enquanto houver próxima eleição e Alberto Silva para defender aquela irresponsabilidade, estaremos todos aplaudindo. Todos, vírgula! Eu estou fora. E a partir de hoje inicio as orações por uma santa que resolva o problema de uma vez por todas, A Santa TNT.

quinta-feira, setembro 28, 2006

VIVA A GOVERNADORA LOURDES MELO

Votei em Lourdes Melo para governar o Piauí. Dos oito candidatos, ela foi a que despertou a minha admiração. Não pela campanha, claro, que nem teve chance de fazer. No horário eleitoral produziu apenas algumas piadinhas de mau gosto. Votei em Lourdes Melo porque ela iludiu o juiz eleitoral Pedro de Alcântara da Silva Macedo. Conseguiu uma liminar inédita para participar do debate da Rede Globo. A Lei Eleitoral diz que as emissoras de TV podem fazer debates em grupos de três ou com todos os candidatos, mediante acordo com as coligações ou partidos. Complementando a lei tem a recente Resolução do TSE 22.261/06, que em seu artigo dezoito faculta às emissoras de TV deixar de convidar candidatos cujos partidos não tenham representante na Câmara dos Deputados. Nada mais justo. Se a Lei eleitoral distribui o tempo da Propaganda Eleitoral Gratuita com os partidos de acordo com as suas representações na Câmara, por que agir diferente com os debates e as emissoras de TV? Tem mais: há inúmeras sentenças nos estados e jurisprudência também dizendo que os candidatos que não têm representação na Câmara dos Deputados não têm razão em reivindicar o direito de participar de debates para os quais não foram convidados, já que as emissoras estão seguindo a Lei Eleitoral.
No Piauí, como tudo tem que ser diferente, foi diferente. A TV Clube passou dois meses investindo para fazer um debate justo, que contemplasse principalmente o eleitor. Reuniu os partidos, mostrou como podia fazer um bom debate, fez em conjunto com os partidos um bom acordo e pediu homologação ao TER.
O juiz Pedro Alcântara foi designado para relatar o processo de homologação e pediu parecer do Ministério Público. Recebeu o OK, tudo nos conformes, de acordo com a Lei. Tascou a homologação e fez a TV Clube acreditar que a partir daí estava livre para engendrar todos os preparativos que acarretariam investimentos relevantes. Além de todo o aparato de engenharia, confecção de cenário e preocupação em arranjar espaço físico para os candidatos, podia fazer as contas do tempo para distribuir entre perguntas e respostas dos candidatos. E assim foi feito. No dia do debate, usando o direito de contestar, a professora Lourdes Melo, guerreira candidata do PCO, foi ao TER pedir para entrar na festa como penetra. O pedido de liminar caiu na mão do juiz Pedro Alcântara. O mesmo Pedro Alcântara que homologou o acordo do debate e as suas regras. E foi aí que Lourdes me conquistou.
Do alto de sua confusa sapiência o juiz deu um sim antológico: in verbis – como se diz no juridiquês: “É indiscutível que o art. 18 da Resolução TSE 22.261/06 faculta às emissoras a participação em debates de candidatos sem representação na Câmara dos Deputados” – ou seja, reconhece que a TV Clube tinha razão em não convidar a candidata.
“Entretanto – prossegue o juiz, não se pode deixar de reconhecer que permitindo a legislação o registro de candidatos sem participação na Câmara dos Deputados, deixe de assegurar o direito de sua participação em debates realizados em emissoras de rádio ou televisão”. E acrescenta que foi buscar este argumento para dar a liminar na opinião do “renomado professor Adriano Soares da Costa”. Trata-se de um comentário que o renomado professor fez em um de seus livros de direito. Data Vênia preclaro juiz. E desde quando uma opinião, um comentário jurídico e um exercício de argumentação têm força de lei? Diz o renomado professor Adriano em sua argumentação: “Ora, se a legislação admite o lançamento de candidaturas por pequenos partidos, é curial tenham eles idêntico tratamento aos demais, sob pena de admitir a quebra do princípio do equânime tratamento dos candidatos, criando duas categorias de candidatos”. Ok, lindo raciocínio. Mas eu também penso e garanto que há várias categorias de candidatos. Se houvesse só uma o próprio TSE não os trataria com desigualdade na hora de distribuir o tempo da propaganda eleitoral na TV. Claro que é legítimo espernear. A professora Lourdes é uma guerreira, não desiste nunca. Tinha o direito de pedir o que pediu. O ilegítimo é penalizar uma emissora que agiu corretamente, dentro da lei, acreditando na Justiça Eleitoral. Sou concorrente do renomado professor Adriano. Sem ser tão renomado, tenho opinião pra tudo. Posso dizer que igualdade é utopia de ideologia comunista. No capitalismo o que deve prevalecer são as diferenças. A vontade da maioria é regra democrática. A justiça existe para dar garantias às leis emanadas da sociedade e não para promover igualdade. (MC)
Se é para igualar, que garantisse à guerreira professora Lourdes os votos de que ela necessitava para empatar a eleição com os demais candidatos. Empatados, seria governador do Piauí o candidato que tivesse o melhor tino jurídico. Viva a professora Lourdes. Ela é acima da média! Devia ser a nossa governadora. Pena que não conseguiu voto sequer para empatar uma disputa no Sindicato dos Professores. Com o meu, ela obteve exatos 715 votos como candidata a governadora do Piauí. Menos da metade do número de colegas filiados ao SINTE, onde é líder.
(Postado sem revisão final)

quarta-feira, setembro 20, 2006

COMO ASSIM, PADRE TONY

O padre Tony Batista é uma mãe. Aquela maezona que harmoniza as diferenças dos filhos com um jeito carinhoso. Não os deixa satisfeitos, claro, mas imprime respeito nas suas decisões. Aspirou esta qualidade, provavelmente, nos estudos profundos da fé cristã, especialmente nos manuais católicos. Foi o que aconteceu agora na escolha da melhor reportagem sobre a Caminhada da Fraternidade. As repórteres Simone Castro da TV Antena 10 e Neyara Pinheiro da TV Clube dividiram o título de primeiro lugar. Dividiram o título. O prêmio não! Padre Tony deu um jeitinho e mandou pagar o valor integral do prêmio às duas equipes premiadas. Vi as duas matérias concorrentes. Embora enfoquem o mesmo tema, obvio, uma é completamente diferente da outra. Simone fez uma reportagem factual. Acompanhou a caminhada, contou uma boa história, flagrou a emoção dos caminhantes católicos e fez uma analogia com a emoção da Copa do Mundo, porque era época da competição. Neyara Pinheiro também recorreu ao mote Copa do Mundo. A analogia foi para mostrar os preparativos do time que organiza a Caminhada. O time que se mistura aos torcedores – os caminhantes, no dia da caminhada, para expressar a emoção da solidariedade. Não fosse uma mãe, padre Tony teria batido o martelo e dito qual das duas merecia o primeiro lugar. Para o critério do tema proposto o prêmio seria de Simone. Foi ela que discorreu mais sobre a Caminhada em si. Neyara foi mais além. Mostrou os preparativos, usou linguagem paralela de edição, fez uma produção além do que pedia o regulamento. A comissão julgadora do padre Tony não viu isto. E, mesmo sendo de cinco pessoas, por incrível que pareça, no final do julgamento empatou as duas reportagens. Como assim, empatadas com CINCO votantes? Não há lógica matemática na Igreja Católica? Desígnios de Deus não se explicam. O padre Tony herdou a ambigüidade da Igreja Católica. O Deus do catolicismo, para agradar a todos, se divide em Pai. Filho e Espírito Santo. Mas rigidamente a gente tem que compreender que é um único Deus. Jesus, o Deus filho, tem mais de cinqüenta mães. Há Virgens Santíssimas para todos os gostos. E todas as Virgens, de todos os lugares, são a mãe verdadeira do filho do Homem. E entenda-se “o Homem” aí como Deus verdadeiro, embora o filho também o seja. No lugar em que não há Pai ou Filho, nem Espírito Santo – se é que isto é possível, o povo se apega a um pedaço de pau cruzado como símbolo milagroso. É o caso de Santa Cruz dos Milagres. A Igreja Católica diz que está tudo certo. Não pode é desagradar. Simone Castro e Neyara Pinheiro, que ganham modestamente bem e não corriam atrás do prêmio em dinheiro, mas do titulo de primeiro lugar, de melhor reportagem, devem estar orando agora e pedindo perdão a Deus pelos pensamentos impróprios que tiveram para definir o resultado festivo da competição. Festivo e de um colorido facial gracioso. Circular.

terça-feira, setembro 19, 2006

A LÓGICA DO PT

Em dois momentos da minha vida, ao que eu me lembre, torci pelos bandidos: no roubo ao Banco Central em Salvador e, mais recentemente, no roubo ao Banco Central em Fortaleza. Em salvador os bandidos esconderam-se, no início de um feriado prolongado, dentro do banco e saíram de lá com um caminhão baú cheinho de dinheiro. Em Fortaleza cavaram um túnel. Ninguém saiu ferido nos dois casos, a não ser o moral dos chefes de segurança. Fiquei assustado ao perceber que estava torcendo pelos bandidos. Mas aos poucos vi que não era só eu. Com os amigos e conhecidos que conversava, confessando um pouco de vergonha por isto, ao contrário de reprimenda, recebia novas confissões. Na verdade quase todos os brasileiros tiveram o mesmo sentimento. Talvez pelo planejamento cinematográfico, pela inteligência e paciência dos criminosos, pela espetacularidade com que a mídia expôs o fato. A hipótese mais provável, no entanto, tem natureza psicológica, pelo menos aqui no Brasil. Os números apresentados nos assaltos têm o poder de extasiar, de fazer-nos inverter os valores. Quem rouba pouquinho é ladrão de galinha, merece cadeia. Quem rouba milhão merece o perdão. Senão como explicar que Lula ainda esteja cantando de galo? Quando começaram os escândalos, com as notícias de que a turma do presidente estava comprando deputado a preço de banana, com míseros trinta dinheiros por mês, no chamado mensalão, quase cassaram o mandato do presidente. Foi só o carequinha xará Valério entrar em cena, falando em milhões surrupiados das estatais, de negociatas e em maracutaias, a opinião pública se inverteu. Aquele era o homem. Passamos a torcer a favor. Afinal o esquema não era coisa de qualquer bandidinho ladrão de galinha. O PT aprendeu que para fazer bons negócios é necessário mais do que uma mixaria na cueca. Tanto é verdade que já agora, para comprar um punhado de papel sem valor, um assessor especial do presidente foi preso com um milhão e setecentos mil. Tudo bem que a gente sabe que nos partidos há os oportunistas, os arrivistas, que chegam de pára-quedas. No PT não! Toda a intelectualidade do crime é gente que tem passado e história na sigla. O mais fraco talvez seja o Delúbio, ou o Silvinho Pereira, ou ainda o tal de Freud, o pobretão de um milhão e setecentos. Seguindo a lógica, para abafar de vez mais este escândalo, o presidente Lula precisa tomar uma posição, além daquela de ser o bobo da corte.
Mas por favor, presidente, quando for para assumir não venha com cifras paupérrimas. Fale logo em milhões. Lembre-se que Collor de Melo foi cassado porque era ladrão de galinha. Foi surpreendido aceitando um presentinho de menos de vinte mil reais, um Fiat Elba. Semelhante ao presentinho que o senhor recebeu sem querer do amigo e companheiro Paulo Okamoto. Aquele pagamento da dívida, lembra?

quinta-feira, setembro 14, 2006

O VOTO "A NÍVEL DE" MAÇONARIA

Estou ainda sem candidatos para representar-me na Câmara dos Deputados e na Assembléia Legislativa. Há uma semana acompanho pelo rádio a propaganda política e não consegui ouvir nenhuma proposta decente dos novos postulantes. Há os que dizem besteira, os que se apresentam como médico, como advogado, como trabalhador, como sindicalista e por aí vai. De minha parte, como não estou doente nem precisando de assistência jurídica e tenho uma certa desconfiança de sindicalista, preferi ficar na dúvida.

Tentei me fixar nos candidatos que tentam a reeleição. Mas eles só apresentam trabalho na área que não me diz respeito. Um Deputado Federal, por exemplo, afirmou que merece ser reeleito porque destinou cerca de 800 mil reais para acabar com as gambiarras de energia elétrica nas favelas de Teresina. Até o final de 2007 todo favelado vai receber dinheiro para fazer uma ligação de energia legalizada. Não sou favelado e nem consumo energia de gambiarra. Portanto este já está fora das minhas intenções. Se fosse favelado também não votaria nele. Se tivesse energia de graça, roubada do poste da esquina, por que iria querer fazer uma ligação registrada para pagar conta? Tem candidato que promete criar emprego. Não diz em que área nem explica que o trabalhador tem que ser qualificado. Como estou empregado não me seduz esta promessa. E o pior: a grande maioria dos candidatos só promete e garante que vai salvar os pobres. Vai dar a eles melhores condições de vida, de trabalho, de educação, de segurança. Eliminei aí mais um bocado porque não sou pobre, embora precise de educação de qualidade para meus filhos e netos e segurança para minha família. Mas os candidatos não querem saber de mim. Eles dizem que os ricos podem pagar. Como também não sou rico me sinto perdido. E sem proteção, e sem candidato. Recebi em minha casa alguns candidatos, desses que andam de porta em porta apertando mão e se apresentando como legítimos representantes da “comunidade”. A maioria escolheu uma má hora para me visitar. Estava em descanso ou brincando com meu neto. Foram eliminados porque atrapalharam o meu sossego. O melhor candidato que recebi pedindo voto foi no meu trabalho. Chegou como quem não quer nada e se apresentou como irmão. "A nível de muito respeito e cumplicidade" - dizia ele. Como assim, irmão? – Perguntei. Tinha em mente que estava me confundindo com evangélico ou, na pior das hipóteses, meu pai teria feito alguma coisa muito agradável com a mãe dele. Só caiu a ficha quando ele pediu um papel, assinou rebuscadamente o nome e colocou três pontinhos em forma de triângulo no final. “Reconhece este sinal a nível de irmandade?” – Perguntou ele. Claro que reconheço, disse-lhe. Eu também gosto de enfeitar a minha assinatura, embora desniveladamente, com três pontinhos. Aí ele se animou e começou a falar da seriedade da Maçonaria, porque candidato maçom era de confiança, além do que deveria existir “entre nós maçons o compromisso de solidariedade a nível de irmãos”

Quando ouvi o “nós maçons” me senti um verdadeiro Grau 33, detentor do absoluto segredo da Maçonaria. Foi aí que resolvi testa-lo com os meus conhecimentos maçônicos: “Diga-me, meu irmão, qual a medida exata entre o centro do focinho e a ponta do rabo do maçônico Bode Preto?” O irmão simplesmente não soube responder e saiu pela tangente dizendo que "o Bode Preto, a nível de Maçonaria, não passa de uma fantasia". Perdeu meu voto, o irmão. Não posso votar, ser solidário ou parente universal de um candidato que não conhece, a nível de maior segredo maçônico, as medidas de um bode.

sexta-feira, setembro 08, 2006

NÃO CONHEÇO TERESINA

Estou entrando em pânico. Num beco sem saída. Provavelmente pela falta de sinceridade. Por ser bairrista. Nos encontros de trabalho em outras capitais sou o mais intrépido defensor do Piauí, de Teresina. Não aceito gozações de que aqui é quente, que é o Estado mais pobre e essas coisinhas que as pessoas de fora têm como a mais relevante informação. Nunca imaginei que um desses colegas de fora quisesse me por à prova. Pois foi o que aconteceu agora. Um amigo de João Pessoa manda-me um e-mail e telefona confirmando que pretende passar três dias em Teresina, com a mulher e um casal de filhos adolescentes. Viagem de férias. Quer conhecer o melhor da capital piauiense. Está inquieto para ver os encantos de que tanto falo com muita paixão. Vem no final da primeira quinzena de outubro.

Pombas! E logo no período de mais calor? Alguém pode estar pensando que isto é besteira, que o mundo todo sabe que aqui faz calor. Portanto não se justifica a minha apreensão. Não se justificaria, não fossem as respostas secas que dou aos gozadores do Piauí. Esse amigo, por exemplo, uma vez me perguntou o que existia aqui além do calor escaldante. Imediatamente perguntei o que ele conhecia do Brasil, além da fama falsa do calor de Teresina. Falsa fama... deixa estar! Não há de ser nada, pensei após receber o e-mail. Vou arrasar com uma boa programação de nossas coisas. Vejo com tristeza agora que “coisa” é um excelente substantivo. Desde que você não saiba ao certo do que vai falar. Procurei a programação de Teatro para outubro. Se houver, ainda não tem nada definido. Corri para o site da PIEMTUR. Nenhuma informação sobre Teresina, a não ser algumas fotografias da cidade e um texto, uma espécie de crônica surrealista. Sonho de realidade. Fala mais do que queremos ser do que realmente somos. Na descrição dos parques ambientais da cidade a única coisa que se aproveita são os números das leis que os criaram. Nós que moramos aqui sabemos como estão hoje. Basta visitar dois: Parque Poticabana e Parque da Cidade... Lembrei das agências de viagem. Liguei pelo menos para três delas, as maiores segundo a minha avaliação, perguntando o que teriam para oferecer aos visitantes como opção. A resposta em todas foi uma graça. No geral a especialidade delas é tirar o teresinense daqui para conhecer outras capitais, outros países e as praias exuberantes do Nordeste. Sei que posso pegar os filhos adolescentes do meu amigo e jogar nos shoppings. Sim mas e daí? Além de levar o meu amigo para almoças e jantar, e nisto Teresina, para quem pode pagar bem, tem fartura, o que mais posso fazer? Por favor quem tiver costume de enganar amigos visitantes me socorra. Não vale informação de folheto de balcão de hotel, nem opções de compras, nem indicação de artesanato. Ele é do Nordeste. Quem gosta de balangandã feito a mão é paulistano, carioca e europeu. Mas quero lembrar também que antes de entrar em desespero já consultei todas os nossos balcões de informação turística. O que não estava “sem funcionar no momento” o telefone constava como número errado. Tudo bem, eu sei que Teresina recebe centenas de pessoas de outros Estados. Afora os doentes que buscam tratamento, tem os turistas de eventos e encontros de trabalho. Tem os arrivistas, tem os bem intencionados e representantes comercias. E efetivamente meu amigo não se enquadra nestas categorias. Não quero fazer com ele o que as agências de viagens fazem com os teresinenses, com a lógica de que o melhor da cidade está no aeroporto, com o embarque confirmado, ou na Ladeira do Uruguai, saída para Fortaleza e para as praias piauienses.

sábado, setembro 02, 2006

CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA? TÔ FORA!

Aprendemos, eu e toda pessoa normal, que quando a esmola é grande o cego desconfia. E este é um ensinamento que vem de nossos bisavós. Bem a propósito, tive alguns desentendimentos por causa disto. O mais emblemático é com os ecologistas. Que o digam os amigos Judson Barros e Alcide Filho. Se bem que os dois têm menos interesse que a grande maioria. Ecologistas estão sempre fazendo discursos apaixonados em favor da natureza. Existem centenas de ONGs bem abastecidas de grana para defenderem os animais e as plantas. A mais notória organização é o Greenpeace Internacional, que tem ramificações no Brasil. Não dou um vintém por nenhuma. Sou a favor da vida humana. Da vida inteligente, produtiva. Para preserva-la e alimentá-la não ligo se vão morrer centenas de baleias, bois, cabritos, macacos, onças, guaribas e bichos-preguiça. Tampouco me incomoda a devastação de matas para plantar grãos ou criar gado. Ecologistas e ONGs espalham pelo mundo, jurando que é verdade, que o planeta Terra está ameaçado de ficar sem água potável. Que a solução é preservar a Amazônia, pulmão do mundo, que a floresta deve ser um bem da humanidade, deve ser internacionalizada. Até a ONU entrou no discurso. Sou um analfabeto em ecologia, em ecossistemas e outros neologismos criados para colocar na moda os interesses de uns poucos. Mas bobo, não! Ninguém vai me convencer que um planeta feito de água, com calotas polares gigantescas, com oceanos ainda inexplorados, deve se preocupar com essa bobagem. Para o argumento de que ninguém bebe água salgada do mar, dou o testemunho da inteligência humana para criar tecnologia capaz de dessalinizar todos os oceanos. Tecnologia, aliás, já obsoleta. E estou expondo esta posição anti-ecológica antiga porque li hoje uma entrevista que o site www.oquintopoder.com.br divulgou com o pensamento de Gelio Fregapani sobre a preservação da Amazônia. E Fregapani não é qualquer jornalistazinho metido a besta, como eu, que sai colando opinião sobre o que gosta e o de que não gosta, mesmo quando não entende do assunto. Gelio Fregapani (apresentação colada do site) “...é o maior conhecedor da Amazônia. Gaúcho, é o mentor da Doutrina Brasileira de Guerra na Selva. Para atingir a capacidade de iniciativa de tal magnitude já esteve em praticamente todos os locais habitados e muitos dos desabitados da Amazônia, inclusive a selva, aquela que poucos conhecem e que nem uma hecatombe nuclear destruiria. Fala também mais de uma língua indígena Fregapani já conduziu geólogos a lugares ínvios, chefiou expedições militares e coordenou expedições científicas às serras do extremo norte e onde dormem as maiores jazidas minerais da Terra. Desenvolveu também métodos profiláticos para evitar doenças tropicais, tendo saneado as minas do Pitinga e a região da hidrelétrica de Cachoeira Porteira. Coronel do Exército, serviu à força durante quatro décadas, quase sempre ligado à Amazônia, tendo fundado e comandado o Centro de Instrução de Guerra na Selva. Há mais de três décadas, vem observando a atuação estrangeira na Amazônia, o que o levou a escrever Amazônia - A grande cobiça internacional (Thesaurus Editora, Brasília, 2000, 166 páginas), apenas um título de sua bibliografia. Ele está convencido de que a grita dos ambientalistas serve a interesses americanos e de que a ferrugem da soja foi introduzida no Brasil por concorrentes da grande nação do norte. Para Fregapani, a vocação da Amazônia, além da produção de metais, é a silvicultura. “Se nós plantarmos 7 milhões de hectares de dendê na Amazônia, extrairemos 8 milhões de barris de biodiesel por dia, o que equivale à produção atual de petróleo da Arábia Saudita.

Muito bem. Quem quiser continuar sendo ecologista de carteirinha pode abandonar o assunto. Mas se quiser pelo menos ter uma noção de como questionar as grandes esmolas que esse pessoal quer dar à humanidade, com sua luta, aconselho o site www.oquintopoder.com.br para ler a íntegra da entrevista do Fregapani. Após o acesso clica na coluna Soberania Nacional. E nem precisa acreditar em tudo que o Fregapani diz.

quarta-feira, agosto 30, 2006

MORRE UM CRAQUE DA NARRATIVA

Vi hoje, com tristeza, a notícia da morte do escritor egípcio Nagib Mahfuz. O conheci em 1988, com as notícias de que era o escolhido para receber o Prêmio Nobel de Literatura. O fato ganhou mais de uma semana de mídia, porque Mahfuz foi o primeiro escritor de língua árabe a conquistar o Nobel. E ainda é o único. Corri para as livrarias imediatamente com o nome dele para garimpar alguma obra, antes que a fama o tornasse inacessível. Encontrei “As codornas e o outono”, escrito, se não de engano, nos anos setenta. Achava que iria encontrar uma narrativa rebuscada, chata. Mas apostava também na sabedoria árabe em contar histórias. Tinha em mente o fascínio com que se lê e se entende “As Mil e Uma Noites” , um clássico da literatura árabe. Quem não ouviu falar de Ali Babá e os Quarenta Ladrões, Aladim e a Lâmpada Maravilhosa, O Príncipe do Oriente, Omar e Yasmin, A História de Mobarak? Em Mahfuz tem-se a certeza que a arte de contar histórias nasceu mesmo no oriente e os árabes a perpetuaram. O melhor do Ocidente, Homero, diante dele, é ficha grande. Mas precisaria de um grande pouco mais para chegar perto. Exageros à parte! O romance “As codornas de outono” mistura ficção e realidade. É envolvente. É uma história simples de um cidadão que sonhava ocupar um cargo público de influência mas, diante da Revolução Nacionalista Egípcia, ele faz as escolhas políticas erradas. Tem a vida transformada num inferno e se obriga fugir do país. O Romance começa exatamente com o incêndio do Cairo, que prenuncia a revolução. E é mais apaixonante porque se nota ser a obra uma metáfora perfeita da sociedade egípcia, onde o ideal do cidadão é ser funcionário público. Além de tudo isto se passeia pelo Cairo. E o Egito torna-se íntimo do leitor. Nagib Mahfuz tem outras obras traduzidas para o Português. Provavelmente entrarão na lista das mais vendidas, agora com a sua morte. Lembro de dois títulos que ainda não li: "Miramar" e "A Batalha de Tebas". Mahfuz é festejado em todo o Ocidente mas as suas obras foram boicotadas em paises árabes porque ele, embora declarasse total solidariedade aos palestinos, foi um dos poucos intelectuais árabes a dar apoio aos acordos de paz entre Egito e Israel, em 1979. Em 1994 sofreu um atentado. Um fundamentalista islâmico o esfaqueou no pescoço depois que líderes extremistas o acusaram publicamente de estar contra a religião. Teve graves sequelas, como a paralisia de um braço. Morreu hoje, segundo as notícias, de parada cardíaca depois de uma longa internação hospitalar. Tinha 95 anos de idade.
A última lembrança que guardo de Mahfuz foi a notícia de um encontro que teve com o brasileiro Paulo Coelho.
(postado sem revisão)

segunda-feira, agosto 28, 2006

A INTELECTUALIDADE ESTÁ EM FÉRIAS

O debate de idéias, no Brasil, depois que o Partido dos Trabalhadores conquistou o poder, está sem graça. Grande parte da intelectualidade de esquerda perdeu fôlego e abraçou o neoliberalismo. Até o espaço de opinião na grande mídia escasseou. Nem a campanha eleitoral agora tem mais preocupação com os temas ideológicos. A ordem do dia dos programas eleitorais, decidida unicamente por marqueteiros de ocasião, é emplacar a idéia de que cada um dos candidatos é mais bonzinho, tem mais condições de ajudar aos pobres, estará mais voltado para programas sociais. E o pior: a mídia vai a reboque. Teme elevar o debate porque acha que vai perder espaço entre os formadores de opinião. Quem vai acreditar em jornalista daqui a dez anos, se permanecer este quadro? E esta é uma tendência mundial, fruto da globalização. O enfraquecimento do socialismo tem grande influência no comportamento da mídia hoje. Não se vê mais um debate acirrado, gerado pelos intelectuais de direita, de esquerda, de centro ou de ideologias menores. Das três grandes forças que disciplinam o mundo: armas, dinheiro e a palavra, uma só, o dinheiro, está dominando. O capitalismo não tem mais freios. Não tem adversário. Não precisa mais provar que é um modelo sólido de economia. Domina a grande mídia. Amordaça e sufoca a pequena. O debate de idéias e a exposição do pensamento migraram unicamente para os livros, com tiragens pequenas e preços inacessíveis. Sem contar a desleal concorrência de programas de TV de gosto duvidoso e uma internet abarrotada de lixo que dá mais fragilidade ao conhecimento.
No Brasil a situação é tanto mais caótica porque nem a Universidade está fortalecida. O que se discute hoje nos melhores centros acadêmicos é quando será a próxima paralisação para repor as perdas salariais. A discussão de melhoria da qualidade do ensino está atrelada a itens negociáveis na hora do confronto. O pão de cada dia hoje tornou-se mais importante que o futuro.

quarta-feira, agosto 23, 2006

UM DESABAFO PARA AMIGOS

Há bons amigos e amigos. Recebi hoje um estimulante e-mail da amiga Mercedes Nogueira, companheira e camarada da época de desbunde, da juventude talhada na luta para salvar o Brasil. É verdade que ninguém sabia que salvação era esta, mas todos tinham consciência de que sem democracia não se podia viver. Mercedes diz que estou amargo, tendo opiniões contraditórias, falando o que provavelmente não faço. Diz que estou parecendo o Diogo Mainardi, que escreve apenas para causar polêmica. Não é a primeira vez que me comparam a Mainardi. Isto me incomoda, sim! Gosto muito da coluna do Mainardi na Veja. Leio-a vez ou outra quando a revista traz um assunto bom e eu a compro. Invejo o seu jeito de escrever fácil. Mas não o li o suficiente para ser contaminado. Sei com certeza que fui contaminado por José Carlos Oliveira, por Nelson Rodrigues e Paulo Francis, por Armando Nogueira e Carlos Lacerda. Sou do tempo em que os livros e os bons autores não tinham a concorrência da TV. Tampouco havia o interesse editorial pela auto-ajuda, a despeito de Deus Negro, de Neimar de Barros. Paulo Coelho não teria chance. Talvez por isto seja um fenômeno hoje, porque teve oportunidade de ler muito. Mídia para os jovens no final dos anos 60 e anos 70 era, além dos livros, a música, o cinema e os jornais, principalmente os recheados Cadernos de Cultura. Lia-se tanto mais quanto se vê TV hoje em dia. Eu particularmente colecionava o Caderno B do Jornal do Brasil, onde conheci José Carlos Oliveira, o meu cronista preferido. Aos 17 anos grande parte da minha geração já havia lido Ulisses de James Joyce; O Capital de Marx; Revolução na revolução de Regis Debray; Eros e Civilização de Herbert Marcuse e A Obra Aberta de Umberto Eco. Mas sabíamos também da existência de Lukacs, Gramsci, Herman Hesse e mais e mais, todos muito festejados no Brasil pelos editores e consumidos vorazmente pelos estudantes. Não sobrava tempo para as crises existenciais da adolescência. Os nossos Clubes de Jovens não se reuniam para rezar, participar de joguinhos e discutir a bondade de Deus, como hoje. Os encontros normalmente serviam para discutir os grandes pensadores. A moda eram os de esquerda. Fui presidente do Clube de Jovens do meu bairro e a primeira medida, aprovada em Assembléia Geral, foi assinar a Revista Civilização Brasileira. Através desta publicação, além de outros, tivemos acesso aos textos e ao pensamento dos brasileiros Nelson Werneck Sodré, Alceu Amoroso Lima, Leandro Konder, Paulo Francis, Ferreira Gullar, Carlos Nelson Coutinho e Fernando Henrique Cardoso. Sim, FHC o ex-presidente. A música também era pauta obrigatória das discussões. Ou melhor, a letra das músicas. Imagine-se a produção daquela época, na efervescência do Tropicalismo. Apenas para constar cito Gil, Caetano, Chico Buarque, Capinam, Torquato Neto, Geraldo Vandré... E depois desse arroubo, das boas lembranças, volto à amiga Mercedes e ao excelente Mainardi. O colunista da Veja provavelmente também caminhou nesta trilha, além de muito mais estrada que eu, com absoluta certeza. Mercedes está casada e tem dois filhos. Um médico e um jornalista. É socióloga e aposentada como professora da Universidade Federal do Ceará. Ela sabe que escrever e pensar são coisas diferentes, embora uma dependa da outra. Ser contraditório é uma necessidade.. Não tenho medo de ser contraditório, de cair em contradição. O que me apavora é a possibilidade de deixar de pensar. Perder a vontade de mudar de idéia. No mais, tudo não passa de um constante exercício de argumentação.

segunda-feira, agosto 21, 2006

OS PROTESTOS DOS EX-POBRES

Espetaculares. Estimulantes. Bravas as reações de alguns leitores deste blog com a afirmação de que “alegria de pobre é aperto de mão”. Além dos comentários postados recebi vinte e seis e-mails. Todos a princípio concordam com algumas afirmações mas no geral qualificam-me de insensato, burguês, asno, preconceituoso. Acusam-me de ter sentimentos infame, vil, ordinário e inescrupuloso. Afirmam que as minhas colocações são comuns a pessoas que nunca passaram fome na vida, que não sabem o que é pobreza, que fizeram questão de esquecer as dificuldades que algum dia tiveram. Eu concordo plenamente. Dizem os leitores que têm origem pobre. Está na moda ter origem pobre. Dois leitores mandaram eu mirar o presidente Lula como o melhor exemplo. Vou tentar.
Os ex-pobres que conheço esqueceram o passado. Negam. O presidente, não! Lula decanta a origem humilde, de fome, de miséria, apesar de ter declarado à Justiça Eleitoral que tem um patrimônio de cerca de oitocentos mil reais. Para uma pessoa que passou grande parte da vida sem trabalhar, só fazendo política, é um número espantoso. Exemplarmente invejável. Senão vejamos: Oitocentos mil reais divididos por sessenta, que é a idade do presidente, dá mais de treze mil e trezentos reais por ano. Treze mil por ano, para a Receita Federal, é salário de rico, classe média alta. Deve ser mesmo. Nestas contas do patrimônio de Lula está se levando em conta que ele passou a ganhar treze mil por ano a partir do primeiro ano de vida, que nunca gastou um tostão com mais nada a não ser com o investimento no atual patrimônio. Nem imposto pagou. De fato, o presidente é um pobre que deu certo. Está entre os ricos. E o melhor: não tem que explicar nada, não tem que ensinar como amealhar um bom patrimônio sem trabalhar. E com o poder que tem não precisa esquecer que foi pobre. A lembrança deve ser o combustível que o faz pegar parte do salário dos outros ricos e distribuir com os pobres.

quinta-feira, agosto 17, 2006

ALEGRIA DE POBRE É APERTO DE MÃO

Em menos de uma semana de campanha eleitoral na TV já se pode afirmar com segurança que o tema preferido de todos os candidatos é o pobre. Não há político que não goste de pobre. Agora, então, está um exagero! Tem defensor de pobre de todos os naipes. Político gosta tanto de pobre que nunca faz absolutamente nada para tirá-lo da condição de pobreza.
Aliás acho que sou a única pessoa no mundo que não gosta de pobre. Ou no mínimo a única pessoa que tem coragem de assumir esta sensatez publicamente. A pobreza em uma sociedade é como câncer: é difícil curar e ainda contamina as células sadias.
Não é soberba. Simplesmente não sei conviver com hipocrisia. A pobreza me incomoda porque me sinto impotente diante dela. A única coisa que a pobreza prodruz é mais pobre, além de voto fácil para político corrupto. Não há como eliminá-la do lugar onde se instalou. Normalmente o pobre é indolente. Tem como princípio básico a certeza de que é direito líquido e certo receber ajuda de mãos generosas.
Defendo a tese de que se um governante corajoso pegasse toda a riqueza de um Estado, assim por decreto, e a distribuisse igualmente entre os pobres, não demoraria um ano todos estariam de novo na mais completa miséria. O Brasil está cheio de exemplos de fortunas conseguidas na Loteria cujos ganhadores jogaram tudo fora em menos de cinco anos. Passaram de milionários a remediados e daí a grandes devedores de bancos, vizinhos e bodegas.
Um defeito grave de pobre é gostar muito de político. Enche a boca de "meu deputado", "meu senador", "meu governador" e "meu candidato". Adora um cartaz de político na parede, na frente da casa. Briga por um adesivo, um chapeu e uma camiseta do candidato. E pobre mesmo que se preza não aceita emprego. Prefere a sinecura, a prebenda que pode receber sem trabalhar, mesmo que tenha de repartir setenta por cento do ganho com o político corrupto. Não é interessante ter salário integral. Assim perderia a condição de pobre.
Na história recente do Brasil, depois de Getúlio Vargas, que foi o "Pai dos Pobres", só mesmo Lula compreendeu a alma paupérrima. Criou o "salário pobreza" e deixou todo mundo feliz. Ninguém precisa fazer nada. Só provar que é pobre, que tem filho, que o filho está matriculado em uma escola de pobre. Provando recebe um cartão para garantir o azeite do feijão, o gás de cozinha, mesmo que não tenha fogão, e a pinga do domingo.
E o pior é imaginar que o Governo, formado por políticos que adoram pobres, considera qualquer um que ganhe dez mil reais por ano um ricaço. Eu disse DEZ MIL POR ANO. Sou milionário! Ganho um pouco mais de dez mil por ano. E porque não gosto de pobre o Estado pilha compulsoriamente de meu salário cerca de trinta por cento.
O imposto que pago, desconfio, vai garantir a alegria do pobre. Por isto não tenho segurança, não tenho escola para meus filhos e netos, não tenho atendimento de saúde, não tenho estradas... Não tenho nada, enfim. O pobre também não tem. E sequer pode comprar em casas especializadas, como eu.
Em compensação tem alegria. Tem um coração generoso para agradecer o prêmio do "bolsa-miséria". Contenta-se com uma ninharia. Confia nos políticos e orgulha-se quando recebe um aperto de mão.
Pensando bem é melhor mudar meus conceitos. Pobre sabe ser feliz.

sábado, agosto 12, 2006

A INFLUÊNCIA DO ÍNDIO QUE NÃO SABIA CONTAR

Não sei bem onde vi, mas é certo que um desses antropólogos estudiosos afirmou e provou que os índios brasileiros, lá na época do descobrimento, só sabiam contar até dois. E como fazia o índio pescador para dizer, por exemplo, que pegou dez peixes? Eu respondo: simplesmente ele não pescava dez peixes. O índio era ecologicamente correto. Só matava o que podia consumir. Bobagem, diria o antropólogo. O índio pescador pescava dez peixes, sim. Na hora de contar vantagem ele dizia "só com uma flechada espetei dois e dois e dois e dois e dois peixes". Bom mas não era de história de pescador que queria me ocupar hoje, principalmente de pescador que não sabe contar além de um par de vantagens. Se bem que, como arremedo de sociólogo que tentei ser, posso apontar a influência nefasta desta dificuldade dos nossos índios no Brasil de hoje. Os políticos por exemplo, na grande maioria, têm uma enorme dificuldade de pestar contas da riqueza amealhada em pouco tempo. Não sabem contar. Talvez por isto percam a noção da roubalheira. As instituições de pesquisa do Governo também têm a influência do índio. Medem, pesquisam, checam os números e na hora da divulgação aparecem as aberrações: a inflação não evolui embora o trabalhador sinta a diminuição do poder de compra e o aumento da dívida na bodega da esquina. Sem falar em outras dificuldades administrativas. Os impostos novos criados nunca são suficientes para cobrir as dívidas oficiais. Veja-se o problema da Previdência. Enfim, o que eu queria dizer mesmo é que sou ainda um índio primitivo. Não consigo entender nem fechar as contas nos discursos que ouço nesta campanha eleitoral. O Brasil que até ontem não tinha dinheiro para nada, para nenhum investimento, hoje aparece, nas promessas políticas, com capacidade para gerar milhões de empregos, para investir na indústria, na saúde, na segurança e no que mais aparecer. Desconfio que todos os candidatos têm origem européia. Lula não conta. Ele é analfabeto confesso e orgulha-se de não ter recuperado o tempo perdido estudando quando não tinha nada para fazer. (postado sem revisão)

sexta-feira, agosto 11, 2006

DESCULPA ESFARRAPADA MAS EXPLICA

Juro que não é preguiça, nem falta de interesse. A ausência de novas postagens ou atualização deste Blog deve-se a um problema técnico. Aliás dois problemas. Além do técnico estou com tempo curto para fazer o que mais gosto: escrever abobrinhas em cima de fatos sérios. Em três oportunidades fiz longos textos, revisei e na hora de autorizar a postagem a máquina travou. Reiniciei, repeti o texto e novamente a bruxa deu a volta por cima. Desestimulante isto. Segundo os entendidos o Blog já está pesado, com muitos arquivos. Vou tentar corrigir. A falta de tempo deve-se ao processo eleitoral. Não sou candidato, claro. Mas cuidar da cobertura jornalística de uma eleição, tendo que estudar cada uma das inúmeras leis, para não escorregar, é tarefa que exige dedicação. E por falar erm eleição, para você não pensar que deixei de dizer alguma coisa interessante, repasso o questionamento do genial Millôr: "Você vai votar no candidato corrupto ou no que ainda não é?" (Agora é torcer para que a postagem dê certo...)

segunda-feira, julho 03, 2006

EU SOU UMA MÃE DINÁ

A Cris, amiga e leitora súdita, lembrou ontem a previsão que fiz aqui no blog em uma postagem do dia 11 de maio de 2006, uma quinta-feira. Quinta é o meu dia da semana, segundo meu horóscopo. Estou mais sensível e sensitivo. Naquele dia acordei com a malfadada visão e escrevi: “A SELEÇÃO BRASILEIRA VAI DECEPCIONAR NO MUNDIAL”. Sou, assim, uma espécie de Mãe Diná.
Mentira! Nada de visão. Nem de sonho. O título da postagem era PREVISÕES OBVIAS. Além da Seleção Brasileira falei de outras coisas que deveriam acontecer. E de onde eu tirei esta verdade?
Do óbvio, naturalmente. Perreira e toda a imprensa falavam que a Seleção Brasileira era a melhor, que mesmo com pouco treinamento a qualidade individual dos convocados seria capaz de superar os adversários. Um oba-oba geral e irrestrito. Eu simplesmente não acreditei.
Como não acreditei que as outras seleções classificadas para a Copa do Mundo estariam lá para reverenciar a Amarelinha, para pedir autógrafos às nossas celebridades.
Afirmo e confirmo: futebol não é o meu esporte preferido, não entendo nada de tática futebolística. Sou torcedor vira-casaca. Meu time é o que ganha a rodada do final de semana. Mas daí a acreditar que um time pode ser formado apenas pela força do ego vai uma distância enorme. Um time precisa de humildade e treinamento. E de um bom treinador, que se preocupe muito mais com o adversário.
Não entendo de futebo, Mas sei como se fabrica uma celebridade. Eu disse ce-le-bri-da-de. Craque não se fabrica. Estrela do futebol pode se tentar. Mas se não houver talento dificilmente vai continuar brilhando.
A Seleção Brasileira para mim, portanto, estava formada, na sua maioria, por celebridades. Jogadores que um dia na vida fizeram alguma coisa espetacular, foram escolhidos por uma grande e poderosa marca, daí tiveram assessoria especializada, empresário bem relacionado, um marketing a favor e as melhores vagas em Clubes Top. Fácil assim como um estalar de dedos.
Qualquer um pode ser celebridade. Estrelas só mesmo jogadores do nível de Pelé, Zico, Garrincha, Tostão, Ademir da Guia, Falcão, Maradona e, com licença do nome, ZIDANE. Apenas para citar alguns que se perpetuaram. Brilharão sempre.
Quer uma prova?
Depois da eliminação, qual torcedor respeitou a espetacular habilidade circense de Ronaldinho Gaúcho? Quem respeitou a artilharia de Ronaldo no Penta? E a patente de capitão do Cafu, e Roberto Carlos, e Cacá et caterva?
Poucos e generosos torcedores ficaram calados, sem opinião.
Celebridade serve pra isto também, para ser esquecida da noite para o dia. Celebridade não tem passado e só tem direito mesmo a holofotes enquanto for útil para provocar sonhos dos falsos bons exemplos.
Tudo bem, eu concordo que provavelmente são bons jogadores, que têm algum mérito. A questão que se discute, no entanto, é outra. É o tratamento de mídia que os tornou semi-deuses. E eles acreditaram nisto e se comportaram como tal.
Portanto era óbvio que não combinavam nada com a empáfia do Parreira, com a vaidade de quem nunca dá o braço a torcer. Sem falar que não treinaram nada, porque corriam o risco de se machucar. Um semi-deus machucado é prejuízo certo. Não para a equipe, que o substitui com tranqüilidade. Prejuízo para os patrocinadores.

quarta-feira, junho 28, 2006

FUTEBOL É COMO HORÓSCOPO

Volto antes do tempo. Prometi que só o faria após a Copa do Mundo. Mas volto para falar de futebol, coisa de que não entendo. Tampouco sou muito fã. Fui incentivado pelo blog do Marona. Ele largou tudo para analisar os jogos da Copa do Mundo.
Largou tudo?
E tem alguma outra coisa acontecendo?
Analisar futebol?
Melhor dizendo, o Marona está esmerando a opinião dele. Como achei interessantes algumas colocações resolvi tascar aqui também as minhas opiniões. Se bem que o Marona é gremista roxo e diz que entende e adora futebol. Eu, nem tanto.
Por exemplo, sou torcedor roxo do time que ganha. E quando quero saber qual time vai ganhar leio o meu horóscopo ou telefono para a Mãe Diná. Nunca erro. Nada melhor que confiar no imponderável para entender o que não tem lógica.
Se houvesse lógica no futebol talvez eu gostasse. Mas também não teria graça nenhuma. Já pensou o torcedor abrindo os jornais de manhã, ou a internet, ou a TV e, de posse das estatísticas e das análises, já tivesse a garantia do resultado? Ninguém ia aos estádios. A Copa do Mundo, então, não daria nenhuma chance ao lobby de escalar esse ou aquele Ronaldinho.
Dei-me ao trabalho de ler e ouvir ultimamente muitos comentários de “especialistas em futebol”. Ninguém concorda com o Parreira, salvo alguns de última hora depois dos bons resultados. Todos tiveram o cuidado de colocar na Seleção os seus jogadores preferidos. Mas esqueceram de tirar os do Parreira.
Se o Parreira pudesse fazer assim também, colocar o time com quinze jogadores em campo, acho que nunca ia haver discussão.
Mas a melhor opinião que ouvi mesmo foi a da Mãe Diná na Rádio Globo AM, sendo entrevistada em um programa de variedades, na terça-feira de manhã, antes do jogo Brasil X Gana. Vou tentar reproduzir o diálogo: - E aí, mãe Diná, o que que a senhora pode dizer do jogo de hoje para tranqüilizar a galera? - Meu filho você lembra que eu disse que o Ronaldo ia melhorar. Você viu como ele já fez um gol? - Sim Mãe Diná, mas ele vai fazer gol hoje? - Olhe, se ele melhorar mais, vai fazer sim. Mas pode não fazer, se estiver ligando para o que falam dele. - Mas a senhora acha que a Seleção vai em frente, ganha hoje? - Olhe, tem tudo para ganhar, se jogar do jeito que jogou contra o Japão. Mas tem que tomar cuidado com o pessoal de Gana, que corre muito, tem muita velocidade. Se não tomar cuidado, meu filho, pode perder o jogo.
Sou fã da Mãe Diná. Ela, sim, entende de futebol. E eu me identifico com ela. Porque mesmo sem entender muito, juro que pensava do mesmo jeito antes do jogo contra Gana. E vejam que ela acertou tudo: o Ronaldo num ta nem aí para os que falam dele. Melhorou e fez dois. O Brasil não jogou como no jogo contra o Japão mas tomou cuidado com a velocidade dos africanos. Não deu outra. Deu Brasil.
E, voltando ao Marona, posso garantir que ele entende menos de futebol que a mãe Diná. É só conferir no blogdomarona.blogspot.com

quarta-feira, junho 07, 2006

A BADERNA COMO ALERTA

Finalmente uma coisa interessante para ocupar o noticiário dos telejornais, além das bolhas no pé do jogador Ronaldo. E não se trata da bunda do Ronaldinho Gaúcho, que saiu ferida do treinamento de hoje pela manhã.
Fala-se aqui da invasão do prédio da Câmara dos Deputados. Uma beleza de vandalismo. Uma atitude das massas. Coisa bem planejada, arquitetada com inteligência, para ganhar espaço na mídia e jogar ao segundo plano o patriotismo despertado pela Copa do Mundo.
Quem quiser que reclame, que se ofenda. Que ache uma atitude anti-democrática, uma ofensa a uma instituição secular. Mas na verdade aquilo lá foi apenas um alerta. Um recado direto: quem quiser respeito que se faça respeitar.
E o alerta é tanto mais representativo quando se observa que o comando da baderna estava sob o planejamento de um dirigente petista, o bem nascido Bruno Maranhão que, sem precisar de terras, lidera uma das mais de setenta facções do MST. A dele é o Movimento de Libertação dos Sem Terra. Uma visão nova, portanto. Além da falta de terra esta facção acha também que não tem liberdade.
A maior qualidade de Bruno Maranhão, como líder do MLST e integrante da Executiva Nacional do PT, é ser amigo companheiro do presidente Lula. Tem trânsito livre no palácio do Governo. Tanto que venceu as dificuldade e se encontrou com o presidente em audiência oficial por duas vezes este ano. Aliás, na visita recente de Sua Excelência a Pernambuco lá estava o Bruno amigo em cima dos palanques. Foi um dos convidados especiais para compor a comitiva. Provavelmente um prêmio pela invasão que comandou em abril do ano passado ao Ministério da Fazenda.
Para justificar atitudes, Bruno Maranhão, em entrevista, disse que as pessoas têm que separar a sua condição de dirigente petista da condição de líder do MLST. Como se isto fosse possível. É o mesmo raciocínio que tiveram velhos amigos e companheiros do presidente Lula, como José Dirceu, Delúbio, Silvinho Pereira, Paulo Okamoto et caterva, quando flagrados em desacordo com a lei, a ética e a moral.
Lula, sem atentar os alertas, vai descartando amigos e companheiros um a um, na medida em que eles provam que nunca estiveram preparados para fazer parte da Corte. Não enxergou ainda que o problema não é dos despreparados que se aproveitam do poder do rei, mas de uma instituição que não o acompanhou na conquista do poder. O Partido dos Trabalhadores.

segunda-feira, junho 05, 2006

PATRIOTISMO OU ESPORTE SIMPLESMENTE

Tenho um péssimo gosto. Não gosto de futebol, por exemplo! Devo ser o único brasileiro macho a não apreciar o esporte bretão. Nem sei de onde tiraram este tal de bretão para apelidar o futebol: se da Grã-Bretanha (Inglaterra), ou se de Bretanha (França). Mas isto não importa muito.
O certo é que futebol não me empolga. Nem mesmo o da seleção brasileira. Sou impatriótico quando vejo milhares de brasileiros repetindo indevidamente o genial jornalista Nelson Rodrigues, de que a seleção de futebol é a “Pátria de Chuteiras”. Apaixonado por futebol, Nelson Rodrigues igualmente adorava o poder militar. Criou a frase para homenagear os milicos que mandavam no Brasil e escalavam também a seleção brasileira de futebol.
Tampouco sou católico, ou protestante. Porque dizem que futebol é uma religião. Estou mais para niilista.
Não ligo o mínimo se a seleção perde. Gosto quando ela ganha porque significa bom humor no dia seguinte no ambiente de trabalho, nas ruas e até, quem diria, nas repartições públicas. Aliás, no meu trabalho, ninguém notou ainda que sou vira-casaca. Meu time nunca perde. Sou cadeira cativa da turma que goza os perdedores após as rodadas de futebol.
E como tudo vai parar a partir desta semana, o blog também vai tirar uma folga. Voltarei só em caráter extraordinário caso a nossa “Pátria de Chuteiras” perca alguma batalha para os inimigos. Ou a guerra. O que seria péssimo para humor nacional, para a economia e para os políticos desportistas de última hora.

terça-feira, maio 30, 2006

O NEOLOGISTA CHICO GERARDO

A STRANS, através do inteligente gestor Chico Gerardo, descobriu de repente que não utiliza radar móvel para arrancar dos motoristas mais apressados uma grana extra. Interessante a descoberta. Principalmente porque a própria STRANS, desde a implantação do sistema de radares que mudam de lugar diariamente, distribuía comunicado para a imprensa grifando bem as palavras “os radares móveis estarão hoje nos seguintes locais”. E nominava as avenidas escolhidas.
Chico Gerardo, depois que viu a decisão judicial dizendo que eles eram ilegais em todo o país, transformou rapidamente os seus radares móveis em "radares estáticos". Esperto e rápido no gatilho. Chico explicou ainda, em entrevista na TV, que radar móvel é aquele que fica se movendo, se deslocando. E não seria o caso dos seus, que são movidos pelos funcionários mas ficam estáticos, paradinhos, depois da escolha do local onde devem atuar.
Há de se perguntar aos motoristas de todo o país: alguém já viu, por acaso, neste mundão que Deus criou, algum radar correndo atrás ou na frente de um carro para registrar velocidade? Claro que não! Mas o Chico disse que tem e ele é administrador sério.
Tudo bem. Recorra-se ao dicionário. No Aurélio, móvel significa o “que se pode mover”. Ou seja, é aquilo que pode ser movido. Exatamente o que ocorre com os radares do Chico, que são transportados para locais estratégicos, de preferência onde o motorista só descobre depois que foi flagrado acelerando um pouquinho mais.
Vejamos, por exemplo, a avenida Maranhão. O “radar estático” do Chico, que deveria ficar à altura do Centro Administrativo, onde há maior fluxo de pedestres, inteligentemente é movido para uns duzentos metros mais adiante. É exatamente neste espaço que o motorista, normalmente mais cauteloso em frente ao Centro Administrativo, acelera um pouco mais para passar a quinta marcha. Aí o resultado é aquele clic-clic do “radar estático”.
Caramba! O Chico está errado. Se é “radar estático” por que se move internamente para acompanhar a velocidade dos incautos e ainda bater foto pra dedurar? Pelo mesmo Dicionário Aurélio, estático quer dizer “imóvel como estátua, hirto, que se acha em total estado de repouso".
Fiquemos com o Aurélio, portanto. Ficar com o Chico e ser impaciente no trânsito dá prejuízo.

quarta-feira, maio 24, 2006

A CUMPLICIDADE IGUALA NA CULPA

O deputado do PFL piauiense Ciro Nogueira, corregedor da Câmara, está perdendo o bonde da história. Recebeu da PF o livro caixa da Planan, empresa que promoveu o toma lá dá cá no escândalo das ambulâncias, que ficou conhecido como caso dos sanguessugas, viu os nomes dos deputados e senadores envolvidos, enrolou, enrolou e recuou.
De que o deputado tem medo? Por um acaso viu nomes intocáveis relacionados no livro caixa, que aponta fielmente quem recebeu um agrado para colocar emendas no orçamento da União para comprar ambulância superfaturada?
É óbvio que a grande maioria dos parlamentares, a pedido das bases, destinou recurso para compra de ambulância. Mas é claro, inequívoco até, que nem todos entraram no esquema. Mas alguém deve ter recebido. E é isto que a Câmara e o Senado deveriam apurar. Investigar exaustivamente. O corporativisto torna todos cumplices das irregularidades.
Os inocentes devem receber um certificado. Os culpados devem ser mandados ao fogo dos infernos.
O que não pode é ficar a dúvida. Nos boletins informativos da maioria dos deputados, ou nos discursos para as bases, ou nas ações divulgadas consta doação de ambulância para entidades. Todos, indistintamente, são agora tidos e havidos como culpados. Corruptos. Esta é a imagem que o Congresso quer passar para o Brasil?
Ciro nogueira, repita-se, perde o bonde da história ao deixar de fazer a única coisa sensata no episódio: convocar a imprensa, mostrar a lista com os nomes e alertar que a apuração de culpa cabe ao Ministério Público. Um mandato parlamentar é dado pelo povo. Que se informe ao povo o que deve ser informado.

segunda-feira, maio 22, 2006

NON PLUS ULTRA

Recebemos aqui na redação um pacote misterioso há duas semanas. “Para a TV Clube – Departamento de Jornalismo”, dizia o endereçamento. Após a discussão de quem era o dono, resolvemos abrir em conjunto.
Surpresa! Tratava-se da Edição Especial do Informativo REVERSO, número oito. Um jornalzinho simpático, com notícias do deputado Nazareno Fonteles – PT-PI, da primeira à última página. Uma espécie de prestação de contas do mandato. Que ninguém pediu, é bem verdade.
A maioria dos colegas deu uma rápida olhada nas fotos, leu as manchetes e jogou o impresso sobre a mesa ou na cesta de lixo. Observei atentamente o comportamento de cada um. No final da tarde, entre desinteresse, consulta tipo SUS e caminho da lixeira, ainda sobravam no pacote mais de setenta exemplares. Havia outros espalhados pela redação, sobre as mesas.
Hoje foi o aniversário de dois colegas. É tradição aqui aparecer um bolo para cantar os parabéns. A mesa grande de reunião de pauta se transforma em cenário. Qual não foi a minha surpresa ao observar a decoração tema do aniversário: fotos coloridas de Nazareno Fonteles, algumas charges e manchetes. Umas em tipo preto, outras em vermelho. Lá estavam espalhadas as sobras do informativo REVERSO. Não era bem o que se podia esperar, mas de qualquer forma foi bem aproveitado para evitar sujeira maior no nosso ambiente de trabalho. No final da farra conferi de novo o pacote. Dá ainda para fazer uns dez aniversários e, quem sabe, com boa vontade e criatividade sobre até para alguma decoração da Copa do Mundo. E nas redações onde não se cultiva o hábito dessas farras improvisadas, ou que a rigidez do ambiente só permite festinha na área da cantina, o que terá sido feito do Jornal do Nazareno? É uma indagação pertinente. Se não houver explicação acho que os piauienses devem exigir algum dinheiro de volta. Uma parcela do Imposto de Renda compulsório que o governo nos toma para pagar o salário, a mordomia e a propaganda dos deputados federais e estaduais. Queremos que os deputados, quando resolverem imprimir informativos mostrando as ações e o trabalho que alegam fazer, digam também quanto gastam com os boletins informativos cheios de fotos coloridas. Pessoalmente quero dar uma chance ao deputado Nazareno, porque estou confuso e gostaria de ter uma explicação. REVERSO, o título do seu informativo, é um Adjetivo ou um Substantivo? Dependo disto para o entendimento geral da sua preocupação com o marketing.

quinta-feira, maio 18, 2006

ABAIXO A BANDA LARGA. VIVA O SATÉLITE

Nada mais irritante e mais perigoso para o brasileiro que as providências de última hora. Logo após um grande evento, de boa ou má repercussão, aparecem as autoridades, os parlamentares e os “especialistas” pegando carona para resolver tudo. É o caso lamentável do que ocorre em São Paulo. O Congresso se comoveu e está criando e votando leis de gaveta para combater o crime. Os governos estadual e federal trataram de arranjar culpados e analisar sociologicamente os fatos. Sobrou até para as operadoras de telefonia. “Ganham bilhões com a exploração dos serviços, portanto têm a obrigação de resolver o problema dos celulares das cadeias” – dizem os entendidos e peritos de última hora. Celular na mão de bandido encarcerado passou a ser uma falha tecnológica e não simplesmente o resultado da incompetência administrativa e da corrupção carcerária. Há mais de três anos o Brasil acompanha ao vivo as grandes rebeliões em presídios. Em todas, indistintamente, o jornalismo ágil das TVs mostra os bandidos empoleirados no teto dos pavilhões de celas falando ao celular. Fechando negócios, prestando conta aos líderes e espalhando as notícias para outras unidades prisionais. Já ouvimos entrevista de bandido pelo celular para grandes redes de TV. É como se o problema não existisse. Aliás, até a semana passada nem era problema. De repente alguém descobriu que o preso não deveria se comunicar tão facilmente com o mundo externo. Mas a idéia simples e barata de revistar celas e presos periodicamente, pelo menos após cada visita de familiares e advogados, não bateu na cabeça de ninguém. E se alguém lembrou logo argumentou que não daria resultado. Tem que haver uma grana rolando. A solução é investir mais alguns milhões de reais para bloquear a freqüência usada por celulares, em todas as tecnologias disponíveis, nas áreas dos presídios. Assim vai ter lucro. Grana é a mola e o lucro motores que fazem o mundo funcionar. Tudo bem, vamos fazer rolar uma grana. Mas nunca é demais informar: além das freqüências de 800MHz, 900MHz e 1800MHz já está disponível no mercado a telefonia móvel via satélite. Tecnologia um pouco mais cara, mas acessível a qualquer bandidinho minimamente organizado. Antes que alguém se alegre e pense em ir mais à frente, rolando mais grana para bloquear os satélites, é melhor pensar que também pode dar lucro investindo na construção de novas vagas nos presídios. No treinamento dos agentes penitenciários, no controle contra a corrupção.

sábado, maio 13, 2006

SOMOS TODOS NEGRÕES

Hoje, 13 maio, é o Dia da Consciência Negra. Imagino que nas redações de todos os telejornais produtores e editores se desdobraram para fazer alguma matéria para lembrar a data. Sou contra. Nada a ver com preconceito ou racismo. Pura ciência. Aconselho a negros, mulatos, brancos, amarelos, pardos, jornalistas, minorias afins, autoridades e o povo em geral a leitura de "GENES, POVOS E LÍNGUAS", do geneticista italiano Luca Cavalli-Sforza. Com base em análise de DNA de pessoas de todos os continentes, ele afirma e comprova com grande força de argumentação que todo mundo é parente. Somos todos do mesmo tronco. Somos uma grande família. E a áfrica é a terra mãe da humanidade. O conceito de raça baseado na cor da pele é uma tremenda balela. As diferenças físicas existem porque o ser humano começou a migrar e foi se adaptando aos novos climas. Na áfrica a pele escura protege o organismo do sol do equador. O cabelo pixaim é para reter líquidos do suor e refrescar não só a cabeça mas os próprios vasos sanguíneos. Em cem mil anos – ensina o geneticista italiano, Enquanto o negrão ia se afastando de sua terra, o organismo acompanhava as necessidades de adaptação. Quem foi para o norte e se espalhou pela Europa ganhou pele clara para captar melhor a vitamina D proveniente dos raios ultravioletas. O frio forçou a plástica no nariz. As narinas ficaram estreitas para forçar a passagem de ar e aquecê-lo antes da chegada aos pulmões. No oriente quem fez plástica nos olhos dos negrões foi o vento siberiano. Por isto os chineses e todo o povo oriental têm os olhos fechados por uma bolsa gordurosa. Para desviar as correntes de ar geladas e incômodas. Resumindo: não existe raça negra, nem branca. Tampouco amarela. Existe a raça humana. Portanto abaixo os preconceitos. Pele branca é disfarce. Somos uns tremendos negrões que mudamos de cor, formado de nariz e de olhos por puro capricho da natureza. E agora, quem poderá indenizar os insatisfeitos?

quinta-feira, maio 11, 2006

PREVISÕES ÓBVIAS

PREVISÃO 1 - O ex-governador do Rio, Antony Garotinho, em greve de fome há duas semanas, anunciou que vai à convenção do PMDB para disputar a indicação de candidato à presidência da República. VAI DESMAIAR EM FRENTE ÀS CÂMERAS DE TV, para provar que está debilitado. Terá uma saída honrosa para a patuscada em que se meteu. PREVISÃO 2 - O PREÇO DO GÁS VAI AUMENTAR PARA O CONSUMIDOR BRASILEIRO. A Petrobrás, é bom lembrar, é uma estatal de capital aberto. Tem acionistas. O presidente Lula não pode, sozinho, decidir que a empresa ficará com o prejuÍzo do eventual aumento imposto pelo governo boliviano. Lula mente ao dar as garantias de que o gás não aumenta. PREVISÃO 3 - A SELEÇÃO BRASILEIRA VAI DECEPCIONAR NO MUNDIAL.

segunda-feira, maio 08, 2006

INJUSTIÇAS COM LULA

Um fim de semana difícil para o presidente Lula. Abandonado pelo partido, acossado pela PF e esquecido pelos amigos, o ex-dirigente petista Sílvio Pereira resolveu falar. Disse, em longa entrevista ao jornal “O Globo”, que os chefes da quadrilha que assaltou os cofres públicos são os donos do PT. Incluindo aí, e principalmente, o presidente Lula. Não vale. Ninguém deve dar um tiquinho de crédito sequer à nova versão do ex-dirigente petista que nos tempos de vacas gordas, de poder, foi flagrado recebendo um mimo, um modesto Land Rover de setenta mil reais, para traficar influências no Governo. Silvinho Pereira teve a chance de contar tudo à CPI e não o fez. Por que só agora resolveu lembrar de dados e fatos? No domingo à tarde os jornalistas impertinentes, desavisados, pegaram o presidente no lazer e quiseram saber o que ele podia dizer sobre as declarações do ex-secretário geral do PT. A resposta óbvia do presidente é que não sabia de nada, não tinha lido nada, não tinha visto tv e só nesta segunda-feira poderia falar. Não é segredo que o presidente não gosta de ler, tampouco é segredo que ele nunca sabe de nada. Por que, então, a imprensa continua correndo atrás do nada? Pelo visto o presidente também não tem assessores para avisa-lo do que está ocorrendo. E nem amigos. Ou melhor, tem os melhores amigos porque não o aborrecem com estas coisinhas sem nenhuma significância. Ao invés de aborrecer o presidente com perguntas para as quais ele nunca está preparado, o de que precisamos, nós jornalistas, é dar uma contribuição ao país. Incentivar Lula. Presenteá-lo com livros. Faze-lo adquirir o interesse pelas palavras. E alguém precisa dar o primeiro passo. Liguei hoje cedo para Brasília e pedi para agendar uma audiência com Sua Excelência. Não sei se vou conseguir. Ficaram de dar retorno de uma data disponível. Pelo sim, pelo não, estou juntando uns livrinhos já descartados pelo Marcus Felipe Cavalcante, meu neto, de três anos. Livros bem simples, cheios de figurinhas, com até vinte páginas e menos de cem palavras. Estes maravilhosos livros que fazem a criança ter o primeiro contato com a necessidade de pensar e incentivam a imaginação. Ainda bem que o meu neto, com apenas três aninhos, já passeou por um sem número de títulos. Mais de cinqüenta. Separei para a viagem "As coisas preferidas de Margarida"– de Jane Simmons; "A zabumba do quati", "Banho sem chuva", "Baladas e amigos", "Com prazer e alegria" e "Fome danada" – de Ana Maria Machado; "Olha o Olho da Menina" – de Marisa Prado, Ilustrado por Ziraldo; além de outros. Dentre todos, dois chamaram-me bastante a atenção. Um é "Dino Amigo". É a história de três filhotes de dinossauro brasileiros que lutam contra a bruxa Tiranarex. Ao longo da narrativa o livrinho vai passando conhecimentos e dando dicas de ética e ensinando agir do lado do bem. O outro é da ilustradora inglesa Lucy Cousins. Ela resolveu escrever e criou não apenas livros, mas uma série de descobertas. Centrada na personagem Ninoca, uma ratinha branca de focinho cor-de-rosa, a autora incentiva o leitor a ir cada vez mais à frente, para as próxima páginas. A ratinha ganhou dezenas de aventuras bem escritas e com ilustração primorosa: "Ninoca vai dormir", "Ninoca faz aniversário", "Ninoca escova os dentes"... Ninoca... Ninoca e mais Ninoca. A ratinha faz de tudo e o leitor, puxando umas lingüetas nas páginas do livro, faz a ratinha se movimentar pelo cenário de cada história. Um primor para quem precisa de incentivo aos primeiros passos na leitura. O problema é que os livros da Ninoca são um pouco mais caros. Não vou leva-los para o nosso presidente. Meu neto não os liberou. Mas não há de ser nada. Marcos Valério pode providenciar a coleção completa para Lula.

quinta-feira, maio 04, 2006

A DESVALORIZAÇÃO DA MAMONA

Quando menino, em Fortaleza e depois aqui em Teresina, costumava brincar com os parceiros de infância de guerrear. A munição, o fruto da mamoneira. Ou carrapateira, como era conhecido o pé de mamona lá no Ceará. Convivi com a mamona abundante em terrenos baldios e monturos. Mais tarde, no ginásio, outra aproximação.Desta feita culturalmente. Aprendi que o óleo pode ser usado na fabricação de tintas e isolantes, como lubrificante na aeronáutica porque é de baixa temperatura, para o fabrico de cosméticos e drogas farmacêuticas. Serve também de base na fabricação de corantes, anilina, desinfetantes, germicidas, inseticidas, tintas de impressão e vernizes, colas e aderentes, além de nylon e matéria plástica. Mais recentemente uma pesquisa da Universidade de Viçosa garantiu: o óleo de mamona transformado em plástico, sob a ação de reatores nucleares, adquire a resistência do aço, mantendo a leveza da matéria plástica. Mas a notícia de maior impacto para mim, sobre a mamona, é bem outra e tem pouco tempo: o óleo de alta qualidade e qualificação, pela inteligência de alguns privilegiados pesquisadores, pode ser transformado em combustível. Como assim, cara pálida? Reagi de pronto! Quem vai querer embarcar nesta canoa furada, se o azeite de mamona, extraído até de maneira rústica, vale no mercado externo cerca de MIL DÓLARES a tonelada? Quem vai investir em tecnologia cara e sofisticada, em pesquisa, para refinar este azeite, transforma-lo em combustível, cujo preço não alcança os QUINHENTOS DÓLARES a tonelada, no mesmo mercado externo? Fiz esta pergunta para o senador Alberto Silva, que foi o primeiro a trazer para o Piauí as boas novas. “Isto é bobagem”, respondeu ele, com a autoridade de quem passou por outros grandes experimentos científicos, como a máquina de arrancar toco, o navio do sal, a navegabilidade do rio Parnaíba, a inseminação de vermiculita em sementes de feijão, as hortas de telhado, etc. Sem prejuízo, claro, da grande capacidade administrativa de que é dotado. Repeti a pergunta aos assessores do presidente Lula, quando se fez festa para lançar o projeto de plantação de mamona no Piauí. Pediram-me um endereço eletrônico para mandar material provando a viabilidade do projeto questionado por mim. Ainda estou aguardando resposta. Hoje, para nenhuma surpresa minha, acompanhei uma extraordinária reportagem de Marcos Teixeira mostrando que o grandioso projeto com mamonas no Piauí, para produção de biodíesel, fez água. Ou melhor, fez devastação de mata, decepção de agricultores e provavelmente fome de muitas famílias que acreditaram nas promessas mirabolantes do presidente Lula. O mais assustador em tudo é que ainda querem nos enganar. Após a reportagem da TV Clube, apareceu o doutor Sérgio Vilela, Gerente de Relações Internacionais do Estado do Piauí, provavelmente mais um desentendido em mamona, ao vivo, garantindo que o governo vai ajudar as famílias que não conseguirem produzir mamona como estava planejado, fantasiado e prometido. Mas com qual dinheiro, doutor Sérgio? Volto à infância, se preciso. Encho meu patuá de fruto da carrapateira e vou à guerra. Quero preservar os meus investimentos no Estado. Não foi para isto que recolhi e continuo pagando em dia os meus impostos.

sexta-feira, abril 28, 2006

ORAÇÃO PARA O DIA INFELIZ

Cai o dólar, a Petrobrás anuncia com estardalhaço a auto-suficiência em petróleo. E o preço da gasolina vai para cima. Beira os três reais por litro. No fechamento da declaração do Imposto de Renda milhares de brasileiros descobrem que estão trabalhando três meses no ano só para as farras do Estado e os desmandos do Governo. Afora os outros impostos que incidem sobre água, luz telefone, combustíveis, saúde, habitação, alimentação, lazer, bebidas em geral, transporte e o escambau. E o retorno para o cidadão é uma banana. Não falo da fruta. Falo do falo. Ou daquela obscena cena de brandir o punho e o braço no ar. O Globo, numa reportagem espetacular, mostra os deputados pilhando os cofres públicos com notas de combustível. Quinze mil por mês. A mesa da câmara, numa ação rápida, diz que isto não vai mais acontecer. Limita os gastos de gasolina para cada deputado em pouco mais de quatro mil mensais. Mas os quinze mil ficam disponíveis para outras despesas. Os sem-terra e outros movimentos sociais, autodenominados minorias, ao arrepio da lei, fazem passeatas e invadem propriedades privadas e públicas, destroem laboratórios e patrimônios. Punição zero. O PT, parcialmente desmoralizado, ergue-se impávido para apresentar nas próximas eleições uma nova proposta de poder renovado, com o pouco de dignidade que ainda lhe sobra, as mesmas figurinhas, com outras supostas caras novas. Os outros partidos nem isto. São os mesmos candidatos. Estamos órfãos. Queremos nossas mães. Por menos disto há centenas de americanos esquisofrênicos que passam a mão em um rifle e saem atirando por aí.