sexta-feira, abril 28, 2006

ORAÇÃO PARA O DIA INFELIZ

Cai o dólar, a Petrobrás anuncia com estardalhaço a auto-suficiência em petróleo. E o preço da gasolina vai para cima. Beira os três reais por litro. No fechamento da declaração do Imposto de Renda milhares de brasileiros descobrem que estão trabalhando três meses no ano só para as farras do Estado e os desmandos do Governo. Afora os outros impostos que incidem sobre água, luz telefone, combustíveis, saúde, habitação, alimentação, lazer, bebidas em geral, transporte e o escambau. E o retorno para o cidadão é uma banana. Não falo da fruta. Falo do falo. Ou daquela obscena cena de brandir o punho e o braço no ar. O Globo, numa reportagem espetacular, mostra os deputados pilhando os cofres públicos com notas de combustível. Quinze mil por mês. A mesa da câmara, numa ação rápida, diz que isto não vai mais acontecer. Limita os gastos de gasolina para cada deputado em pouco mais de quatro mil mensais. Mas os quinze mil ficam disponíveis para outras despesas. Os sem-terra e outros movimentos sociais, autodenominados minorias, ao arrepio da lei, fazem passeatas e invadem propriedades privadas e públicas, destroem laboratórios e patrimônios. Punição zero. O PT, parcialmente desmoralizado, ergue-se impávido para apresentar nas próximas eleições uma nova proposta de poder renovado, com o pouco de dignidade que ainda lhe sobra, as mesmas figurinhas, com outras supostas caras novas. Os outros partidos nem isto. São os mesmos candidatos. Estamos órfãos. Queremos nossas mães. Por menos disto há centenas de americanos esquisofrênicos que passam a mão em um rifle e saem atirando por aí.

terça-feira, abril 25, 2006

RECEITA DA MENTIRA

Gulyás é um prato à base de batatas e churrasco de boi, típico da Hungria. Foi incrementado na Rússia, onde virou uma sopa apimentada com carnes de vaca e de porco e um sem número de ingredientes. Ganhou também uma nova pronúncia – Goulash, com a qual se difundiu em toda a Europa e parte da América. Não sei se é servido em alguma parte do Brasil. Provavelmente seja conhecido em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Quero trazê-lo para o Piauí como sinônimo de mentira, de enganação. Afinal na culinária já temos a nossa boa e velha Sopa de Trapo, cujos ingredientes são sobras de carnes assadas ou cozidas, misturadas a verduras e legumes, com muita cebola e pimenta de cheiro. E o que teria a ver o Goulash com mentira e enganação? Tudo! É uma sopa saborosíssima, altamente nutritiva, que parece prato ricamente estudado e elaborado, mas que não passa de um apanhado de restos, sobras de ontem e da semana passada, misturadas à invenção da hora, para enganar a fome e o frio. O Goulash piauiense pode misturar no mesmo tacho o aeroporto de São Raimundo Nonato, o Aeroporto Internacional de Parnaíba, o Porto de Luiz Correia, o Metrô de Teresina, as estradas do cerrado, o Projeto Biodíesel, a ponte do Sesquicentenário, o Fome Zero de Guaribas e Acauã. Para temperar podem-se colocar as mudas de Caju do deputado B. Sá e o empréstimo do Banco Rural para a Universidade ligada ao Deputado Átila Lira. E quem não tiver pressa pode esperar por mais três ou quatro meses. Outras mentiras e enganações estão em fase de gestação. E para não me acusarem de apenas provocar água na boca de gulosos e glutões, vai adiante a receita do Goulash abrasileirado que já testei com carnes e ingredientes de primeira, sem enganação. Ganhou elogios dos convidados: INGREDIENTES: Meio quilo de alcatra ou maminha; meio quilo de pernil de porco. 3 cebolas grandes picadas, alho a gosto picado, 100 gramas de molho de tomate, 2 tabletes de caldo de carne. (recomendo usar um de carne e outro de bacon) 1 batata inglesa grande, páprica picante e páprica doce – uma colher de chá de cada uma; sal, cominho e pimenta do reino a gosto, uma taça de vinho tinto seco, um pimentão e pimenta de cheiro daquelas que ardem. MODO DE PREPARO Refogue numa panela grande a cebola o alho com as carnes picadas. Bem refogado, até soltar o suco e antes de começar a fritura. Acrescente o caldo de carne em tabletes diluídos em duas xícaras de água quente, a pimenta do reino o sal e o cominho. Deixe ferver por alguns instantes e depois vá acrescentando os outros ingredientes aleatoriamente. Ou tudo de uma vez... sei lá, usa a criatividade. Reserva só o pimentão e o vinho à parte. O certo é que tem de misturar tudo na mesma panela e deixar cozinhar por 10 a 15 minutos. Agora o segredo: depois do primeiro cozimento tira do fogo e deixa esfriar. Dá outro cozimento de 15 minutos, deixa esfriar. E mais outro cozimento de quinze minutos ou até alcançar o ponto de um caldo grosso e carnes macias. Neste último cozimento coloca no finzinho o pimentão picado e o vinho. Ta pronto o Goulash e bom apetite.

quinta-feira, abril 20, 2006

O MARAFONA OKAMOTO

Quando assumiu a presidência do Sebrae nacional, o amigão do presidente Lula, Paulo Okamoto, deu entrevista ao Bom Dia Brasil, em Brasília. Zileide Silva, que fala cinco idiomas, tem mestrado e doutorado em comunicação e jornalismo, um currículo de fazer inveja a qualquer estrela do jornalismo nacional, foi encarregada da entrevista. A Globo exagerou na dose... Tudo bem. Parece preconceito. Mas Posso explicar mais adiante. A primeira pergunta da repórter Zileide, óbvia mas necessária: “qual é a formação do senhor?" Ao que o vistoso entrevistado, provavelmente achando aquela negra um pouco atrevida, respondeu com orgulho: “minha formação foi a vida!” A resposta abriu-me um riso saudoso. Remeteu-me à infância. Aos conselhos de meu avô: “menino estuda porque a vida só ensina ser malandro ou marafona. A escola é que leva ao bom caminho”. Marafona, no linguajar cearense da época, correspondia a meretriz, que é a mesma coisa que prostituta e agora mais modernamente garota de programa. Claro que era uma visão grosseira, uma forma truculenta de convencimento. Hoje se sabe que até para ser malandro ou prostituta carece ter um pouco de conhecimento. Bom, mas isto são divagações. O fato é que a resposta do senhor supremo do Sebrae me fez ir atrás do que significava ter aprendido com a vida. Descobri que Okamoto fez um primário incompleto. Nenhum preconceito contra quem não teve oportunidade de estudar. Em absoluto. O preconceito é contra o cara que se formou na escola que diploma malandros e marafonas pensar que é mais sábio que o brasileiro comum. O brasileiro que foi para a escola formal. Preconceito à parte, de qualquer forma, faça-se justiça. O homem é escolado. De marafona Paulo Okamoto herdou a mania de dar dinheiro a cafetão. Basta lembrar as contas que pagou do amigão presidente e depois da filha do presidente. Mesmo sem ser solicitado. Com todo respeito ao cidadão Luiz Inácio da Silva que aprendeu com a sua mãezinha sobreviver às próprias expensas.
Os desvios devem ter sido provocados pela faixa presidencial. De malandragem, aí sim, Okamoto entende mais ainda. Senão como explicar que comande, sem contestação, uma instituição que ganhou credibilidade no Brasil e em parte do mundo porque tem um trabalho de técnicos competentes, que ralam para ter aperfeiçoamento em graduação universitária, em especialização, em doutorado e no que mais for necessário? Escolas, claro, reconhecidas pelo MEC.
O Sebrae, como uma instituição bem nascida e educada, vai suportar até quando?
Bem a propósito, vem outra saudade de meu querido avô e suas máximas: “quem muito se abaixa, meu filho, o fundilho aparece”

segunda-feira, abril 17, 2006

UMA ESTRADA DE NINGUÉM

Final do Governo Freitas Neto. O governador estava saindo para desincompatibilizar-se e deixou o vice, Guilherme Melo, para terminar o mandato. O último ato foi festivo, na cidade de Uruçuí. Freitas Neto assinou, com direito a discursos e garantias, a ordem de serviço para construção da estrada Uruçuí X Jerumenha. Acompanhei a solenidade como repórter. Ouvi das lideranças políticas que “finalmente o governador estava atendendo a uma aspiração de mais de vinte anos do povo da região”. Nas cercanias do palanque oficial ouvi de pelo menos dois populares idosos: “...toda eleição é a mesma coisa. Prometem fazer estrada e nada. Duvido que ela seja feita...” Apostei que seria. Vi à saída da cidade um movimento de máquinas intenso e até uns dez quilômetros de terraplenagem. Voltei a Uruçuí seis meses depois. Rodei sobre um bom pedaço de asfalto e o resto lama. Assim mesmo acreditei que a estrada seria feita até o próximo Governo. Mais de dez anos se passaram. Estou perdendo a aposta. Na última sexta-feira tentei ir a Bertolínea, entre Jerumenha e Uruçuí. O máximo que consegui foi chegar ao povoado Barra do Lança. O que vi foi uma cena surrealista: trinta e duas carretas cheias de soja atoladas até o eixo, duas carretas tombadas e a soja abandonada pelos carreteiros. Um número expressivo de carros de passeio impedidos de trafegar. Buracos, ônibus fazendo metade do percurso e passageiros andando de dois a três quilômetros dentro da lama para continuar viagem em outro ônibus lá do outro lado do atoleiro. Procurei vestígios da estrada prometida. Nada! Em Teresina, de volta à civilização, acionei a produção da TV Clube para saber o que estava sendo feito para livrar o prejuízo dos produtores da região e dos carreteiros. No Governo do Estado os diligentes assessores informaram que o problema era do Governo Federal pois ali era parte da BR 343. Uma estrada federal, portanto. No DENIT os diretores que estavam trabalhando nesta segunda-feira, depois do feriado da Semana Santa, informaram que não sabiam de nada e só quem poderia falar sobre o assunto seria o diretor geral que está viajando. Ninguém está nem aí... O Piauí está separado por buracos. O Governo do Estado diz que não tem nada a ver com isto e o Governo Federal, que não devia ter muita coisa a ver com isto, não pode falar. Fica a saudade dos tempos em que campanha eleitoral se fazia percorrendo os municípios de carro. O avião agiliza a visita dos candidatos ao povo mas os cega para os problemas palmo a palmo das estradas.

A MARCHA DA CAPITULAÇÃO

Para atender o conselho do amigo William Tito ____________________________________________ Tenho uma amiga que me acha racional demais. E justifica o seu achismo dizendo que é porque eu não sei rezar. É verdade, em parte. Eu preferia aos jogos infantis às aulas de catecismo. Mas tive tempo de aprender, com tia Palmira, uma solteirona da ordem religiosa Filhas de Maria, a oração que o Pai nos ensinou. O problema é que nunca consigo ser inteiramente feliz e sincero quando vou rezar. A sensação e de estar enganando ao Santo. Mas confesso: tenho uma certa inveja de quem faz tudo por devoção, principalmente naqueles momentos mais desesperadores em que a fé costuma ser linimento. E por que estou pensando nisto agora? Recentemente vi, pela tv, uma multidão de vinte mil pessoas, de vela acesa, na Argentina, em frente ao prédio da Suprema Corte, exigindo uma tomada de posição contra a violência. A imagem, para mim, representou uma declaração de guerra às autoridades constituídas assinada pelo povo. No Brasil, o país da fé, acredita-se muito mais em orações e caminhadas pela paz do que efetivas cobranças. Parece-me sempre uma rendição quando vejo os pretensos líderes comunitários inventando as tais caminhadas, com a massa vestida de branco, portando bandeiras que desonram a pomba de Picasso. E quando essas imensas caminhadas da capitulação ganham bons espaços na mídia – e via de regra sempre ganham, devem se transformar nos melhores programas de humor para a bandidagem. Lembro que dia desses, enquanto o secretário de Segurança do Estado dava uma entrevista ao vivo na TV, garantindo que a violência havia diminuído nos últimos três meses, e mostrava números, um assalto a uma agência bancária estava acontecendo bem real, diga-se de passagem. E se mortes e feridos não houve é porque nós, os cidadãos comuns, já aprendemos a nos comportar direitinho, como aconselham os especialistas: baixar a cabeça e dizer SIM SENHOR para o bandido. Ou será que naquele momento alguém tinha reza forte e muita fé? Pois foi atendido no pedido para a polícia não atrapalhar. *Escrita em 07/2005

sexta-feira, abril 07, 2006

ABAIXO A DITADURA DAS MÁQUINAS

Uma explicação: Tirei dez dias de folga, por conta de férias que nunca tenho paciência para gozá-las. O blog ficou desatualizado e vai permanecer assim até o final da próxima semana. Quando me afasto da redação sou daqueles deixam o mundo da comunicação ao largo. De qualquer forma estou postando uma crônica antiga, do final do ano passado, mas inédita.
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Viva a repórter Laura Caproglione, da Folha de São Paulo. Esta moça, em uma tacada só, nos convenceu de que ir ao médico periodicamente é besteira. E o melhor: ter plano de saúde, com gastos anuais de R$ 1.500,00 em média, só serve para solicitar parte em devolução do Imposto de Renda. Os exames caros não valem absolutamente nada. Mas não é a Laura quem está nos garantindo isto. São os médicos americanos, os discípulos daqueles que inventaram o tal check up como forma de prevenir doenças. Calma, eu explico, conforme nos explicou a Laura. Está lá na matéria da Laura: médicos e estatísticos fizeram estudos, cruzaram dados, ouviram pacientes, pesquisaram e descobriram que a grande maioria dos sofisticados exames, em máquinas bonitas, ligadas a computador, não serve de nada. Aliás, eu até arrisco dizer que quanto mais pomposo o nome do exame, mais inócuo ele poderia ser. Os exames receberam notas e fui verificar os que já fiz. Descobri desolado que são os de mais baixa avaliação. Estamos falando de procedimentos para detectar o câncer precocemente. Viu que enunciado bonito? E que tal o exame de Colonoscopia? Pois essa coisa aí consiste em mandar o paciente para uma clínica, depois de passar vinte e quatro horas sem comer nada, só bebendo chá. Em lá chegando, depois de umas dez sessões de lavagem intestinal, enfiam-lhe, lá nele, um tubo com contraste para fazer radiografias, ou uma câmera de vídeo. Isto tudo via... como diria para não chocá-los... via anal. Como sei de tudo isto? Imagina! É só lembrar aquela propaganda que diz “o primeiro sutiã a gente nunca esquece”. E sabem quais os exames que ganharam menção honrosa nas pesquisas, segundo a Laura? O Papanicolau, que detecta o câncer no colo do útero, e a medição de pressão arterial, que descobre se nós, pobres mortais, corremos algum risco de doença cardiovascular-cerebral. Acho que é isto mesmo! Pois são os mais simples e rápidos. Sem contar que mede a pressão sem sair de casa. A reportagem da Laura Caproglione diz também que os exames de tomografia computadorizada, raio-X de tórax, análise de escarro para detectar o câncer de pulmão receberam nota I, ou seja, a nota mais baixa. Como nota intermediária, nota D, estão a ultra-sonografia transvaginal para detectar o câncer de ovário e o conjunto de eletrocardiograma de repouso, teste ergométrico ou tomografia computadorizada para doenças coronárias. Será mesmo que já gastamos tanto dinheiro e perdemos tanto tempo só para garantir o sustento dos inventores dos exames? Se é assim, triste descoberta. Pelo sim, pelo não, estamos pensando seriamente em substituir um tal de PSI pelo simples Exame de Inclusão Digital* que faríamos na próxima semana. Nem sabemos se ele foi avaliado pela agência americana em cuidados com a saúde. O EID – Exame de Inclusão Digital* é bem menos complexo que o de Colonoscopia e serve, segundo os médicos, para detectar precocemente o câncer de próstata. E para quem não sabe ele tem um nome mais simples, que não assusta tanto: exame de toque retal. Pense num toque profundo! *eufemismo do autor para esquecer o constrangimento.