quarta-feira, agosto 30, 2006

MORRE UM CRAQUE DA NARRATIVA

Vi hoje, com tristeza, a notícia da morte do escritor egípcio Nagib Mahfuz. O conheci em 1988, com as notícias de que era o escolhido para receber o Prêmio Nobel de Literatura. O fato ganhou mais de uma semana de mídia, porque Mahfuz foi o primeiro escritor de língua árabe a conquistar o Nobel. E ainda é o único. Corri para as livrarias imediatamente com o nome dele para garimpar alguma obra, antes que a fama o tornasse inacessível. Encontrei “As codornas e o outono”, escrito, se não de engano, nos anos setenta. Achava que iria encontrar uma narrativa rebuscada, chata. Mas apostava também na sabedoria árabe em contar histórias. Tinha em mente o fascínio com que se lê e se entende “As Mil e Uma Noites” , um clássico da literatura árabe. Quem não ouviu falar de Ali Babá e os Quarenta Ladrões, Aladim e a Lâmpada Maravilhosa, O Príncipe do Oriente, Omar e Yasmin, A História de Mobarak? Em Mahfuz tem-se a certeza que a arte de contar histórias nasceu mesmo no oriente e os árabes a perpetuaram. O melhor do Ocidente, Homero, diante dele, é ficha grande. Mas precisaria de um grande pouco mais para chegar perto. Exageros à parte! O romance “As codornas de outono” mistura ficção e realidade. É envolvente. É uma história simples de um cidadão que sonhava ocupar um cargo público de influência mas, diante da Revolução Nacionalista Egípcia, ele faz as escolhas políticas erradas. Tem a vida transformada num inferno e se obriga fugir do país. O Romance começa exatamente com o incêndio do Cairo, que prenuncia a revolução. E é mais apaixonante porque se nota ser a obra uma metáfora perfeita da sociedade egípcia, onde o ideal do cidadão é ser funcionário público. Além de tudo isto se passeia pelo Cairo. E o Egito torna-se íntimo do leitor. Nagib Mahfuz tem outras obras traduzidas para o Português. Provavelmente entrarão na lista das mais vendidas, agora com a sua morte. Lembro de dois títulos que ainda não li: "Miramar" e "A Batalha de Tebas". Mahfuz é festejado em todo o Ocidente mas as suas obras foram boicotadas em paises árabes porque ele, embora declarasse total solidariedade aos palestinos, foi um dos poucos intelectuais árabes a dar apoio aos acordos de paz entre Egito e Israel, em 1979. Em 1994 sofreu um atentado. Um fundamentalista islâmico o esfaqueou no pescoço depois que líderes extremistas o acusaram publicamente de estar contra a religião. Teve graves sequelas, como a paralisia de um braço. Morreu hoje, segundo as notícias, de parada cardíaca depois de uma longa internação hospitalar. Tinha 95 anos de idade.
A última lembrança que guardo de Mahfuz foi a notícia de um encontro que teve com o brasileiro Paulo Coelho.
(postado sem revisão)

segunda-feira, agosto 28, 2006

A INTELECTUALIDADE ESTÁ EM FÉRIAS

O debate de idéias, no Brasil, depois que o Partido dos Trabalhadores conquistou o poder, está sem graça. Grande parte da intelectualidade de esquerda perdeu fôlego e abraçou o neoliberalismo. Até o espaço de opinião na grande mídia escasseou. Nem a campanha eleitoral agora tem mais preocupação com os temas ideológicos. A ordem do dia dos programas eleitorais, decidida unicamente por marqueteiros de ocasião, é emplacar a idéia de que cada um dos candidatos é mais bonzinho, tem mais condições de ajudar aos pobres, estará mais voltado para programas sociais. E o pior: a mídia vai a reboque. Teme elevar o debate porque acha que vai perder espaço entre os formadores de opinião. Quem vai acreditar em jornalista daqui a dez anos, se permanecer este quadro? E esta é uma tendência mundial, fruto da globalização. O enfraquecimento do socialismo tem grande influência no comportamento da mídia hoje. Não se vê mais um debate acirrado, gerado pelos intelectuais de direita, de esquerda, de centro ou de ideologias menores. Das três grandes forças que disciplinam o mundo: armas, dinheiro e a palavra, uma só, o dinheiro, está dominando. O capitalismo não tem mais freios. Não tem adversário. Não precisa mais provar que é um modelo sólido de economia. Domina a grande mídia. Amordaça e sufoca a pequena. O debate de idéias e a exposição do pensamento migraram unicamente para os livros, com tiragens pequenas e preços inacessíveis. Sem contar a desleal concorrência de programas de TV de gosto duvidoso e uma internet abarrotada de lixo que dá mais fragilidade ao conhecimento.
No Brasil a situação é tanto mais caótica porque nem a Universidade está fortalecida. O que se discute hoje nos melhores centros acadêmicos é quando será a próxima paralisação para repor as perdas salariais. A discussão de melhoria da qualidade do ensino está atrelada a itens negociáveis na hora do confronto. O pão de cada dia hoje tornou-se mais importante que o futuro.

quarta-feira, agosto 23, 2006

UM DESABAFO PARA AMIGOS

Há bons amigos e amigos. Recebi hoje um estimulante e-mail da amiga Mercedes Nogueira, companheira e camarada da época de desbunde, da juventude talhada na luta para salvar o Brasil. É verdade que ninguém sabia que salvação era esta, mas todos tinham consciência de que sem democracia não se podia viver. Mercedes diz que estou amargo, tendo opiniões contraditórias, falando o que provavelmente não faço. Diz que estou parecendo o Diogo Mainardi, que escreve apenas para causar polêmica. Não é a primeira vez que me comparam a Mainardi. Isto me incomoda, sim! Gosto muito da coluna do Mainardi na Veja. Leio-a vez ou outra quando a revista traz um assunto bom e eu a compro. Invejo o seu jeito de escrever fácil. Mas não o li o suficiente para ser contaminado. Sei com certeza que fui contaminado por José Carlos Oliveira, por Nelson Rodrigues e Paulo Francis, por Armando Nogueira e Carlos Lacerda. Sou do tempo em que os livros e os bons autores não tinham a concorrência da TV. Tampouco havia o interesse editorial pela auto-ajuda, a despeito de Deus Negro, de Neimar de Barros. Paulo Coelho não teria chance. Talvez por isto seja um fenômeno hoje, porque teve oportunidade de ler muito. Mídia para os jovens no final dos anos 60 e anos 70 era, além dos livros, a música, o cinema e os jornais, principalmente os recheados Cadernos de Cultura. Lia-se tanto mais quanto se vê TV hoje em dia. Eu particularmente colecionava o Caderno B do Jornal do Brasil, onde conheci José Carlos Oliveira, o meu cronista preferido. Aos 17 anos grande parte da minha geração já havia lido Ulisses de James Joyce; O Capital de Marx; Revolução na revolução de Regis Debray; Eros e Civilização de Herbert Marcuse e A Obra Aberta de Umberto Eco. Mas sabíamos também da existência de Lukacs, Gramsci, Herman Hesse e mais e mais, todos muito festejados no Brasil pelos editores e consumidos vorazmente pelos estudantes. Não sobrava tempo para as crises existenciais da adolescência. Os nossos Clubes de Jovens não se reuniam para rezar, participar de joguinhos e discutir a bondade de Deus, como hoje. Os encontros normalmente serviam para discutir os grandes pensadores. A moda eram os de esquerda. Fui presidente do Clube de Jovens do meu bairro e a primeira medida, aprovada em Assembléia Geral, foi assinar a Revista Civilização Brasileira. Através desta publicação, além de outros, tivemos acesso aos textos e ao pensamento dos brasileiros Nelson Werneck Sodré, Alceu Amoroso Lima, Leandro Konder, Paulo Francis, Ferreira Gullar, Carlos Nelson Coutinho e Fernando Henrique Cardoso. Sim, FHC o ex-presidente. A música também era pauta obrigatória das discussões. Ou melhor, a letra das músicas. Imagine-se a produção daquela época, na efervescência do Tropicalismo. Apenas para constar cito Gil, Caetano, Chico Buarque, Capinam, Torquato Neto, Geraldo Vandré... E depois desse arroubo, das boas lembranças, volto à amiga Mercedes e ao excelente Mainardi. O colunista da Veja provavelmente também caminhou nesta trilha, além de muito mais estrada que eu, com absoluta certeza. Mercedes está casada e tem dois filhos. Um médico e um jornalista. É socióloga e aposentada como professora da Universidade Federal do Ceará. Ela sabe que escrever e pensar são coisas diferentes, embora uma dependa da outra. Ser contraditório é uma necessidade.. Não tenho medo de ser contraditório, de cair em contradição. O que me apavora é a possibilidade de deixar de pensar. Perder a vontade de mudar de idéia. No mais, tudo não passa de um constante exercício de argumentação.

segunda-feira, agosto 21, 2006

OS PROTESTOS DOS EX-POBRES

Espetaculares. Estimulantes. Bravas as reações de alguns leitores deste blog com a afirmação de que “alegria de pobre é aperto de mão”. Além dos comentários postados recebi vinte e seis e-mails. Todos a princípio concordam com algumas afirmações mas no geral qualificam-me de insensato, burguês, asno, preconceituoso. Acusam-me de ter sentimentos infame, vil, ordinário e inescrupuloso. Afirmam que as minhas colocações são comuns a pessoas que nunca passaram fome na vida, que não sabem o que é pobreza, que fizeram questão de esquecer as dificuldades que algum dia tiveram. Eu concordo plenamente. Dizem os leitores que têm origem pobre. Está na moda ter origem pobre. Dois leitores mandaram eu mirar o presidente Lula como o melhor exemplo. Vou tentar.
Os ex-pobres que conheço esqueceram o passado. Negam. O presidente, não! Lula decanta a origem humilde, de fome, de miséria, apesar de ter declarado à Justiça Eleitoral que tem um patrimônio de cerca de oitocentos mil reais. Para uma pessoa que passou grande parte da vida sem trabalhar, só fazendo política, é um número espantoso. Exemplarmente invejável. Senão vejamos: Oitocentos mil reais divididos por sessenta, que é a idade do presidente, dá mais de treze mil e trezentos reais por ano. Treze mil por ano, para a Receita Federal, é salário de rico, classe média alta. Deve ser mesmo. Nestas contas do patrimônio de Lula está se levando em conta que ele passou a ganhar treze mil por ano a partir do primeiro ano de vida, que nunca gastou um tostão com mais nada a não ser com o investimento no atual patrimônio. Nem imposto pagou. De fato, o presidente é um pobre que deu certo. Está entre os ricos. E o melhor: não tem que explicar nada, não tem que ensinar como amealhar um bom patrimônio sem trabalhar. E com o poder que tem não precisa esquecer que foi pobre. A lembrança deve ser o combustível que o faz pegar parte do salário dos outros ricos e distribuir com os pobres.

quinta-feira, agosto 17, 2006

ALEGRIA DE POBRE É APERTO DE MÃO

Em menos de uma semana de campanha eleitoral na TV já se pode afirmar com segurança que o tema preferido de todos os candidatos é o pobre. Não há político que não goste de pobre. Agora, então, está um exagero! Tem defensor de pobre de todos os naipes. Político gosta tanto de pobre que nunca faz absolutamente nada para tirá-lo da condição de pobreza.
Aliás acho que sou a única pessoa no mundo que não gosta de pobre. Ou no mínimo a única pessoa que tem coragem de assumir esta sensatez publicamente. A pobreza em uma sociedade é como câncer: é difícil curar e ainda contamina as células sadias.
Não é soberba. Simplesmente não sei conviver com hipocrisia. A pobreza me incomoda porque me sinto impotente diante dela. A única coisa que a pobreza prodruz é mais pobre, além de voto fácil para político corrupto. Não há como eliminá-la do lugar onde se instalou. Normalmente o pobre é indolente. Tem como princípio básico a certeza de que é direito líquido e certo receber ajuda de mãos generosas.
Defendo a tese de que se um governante corajoso pegasse toda a riqueza de um Estado, assim por decreto, e a distribuisse igualmente entre os pobres, não demoraria um ano todos estariam de novo na mais completa miséria. O Brasil está cheio de exemplos de fortunas conseguidas na Loteria cujos ganhadores jogaram tudo fora em menos de cinco anos. Passaram de milionários a remediados e daí a grandes devedores de bancos, vizinhos e bodegas.
Um defeito grave de pobre é gostar muito de político. Enche a boca de "meu deputado", "meu senador", "meu governador" e "meu candidato". Adora um cartaz de político na parede, na frente da casa. Briga por um adesivo, um chapeu e uma camiseta do candidato. E pobre mesmo que se preza não aceita emprego. Prefere a sinecura, a prebenda que pode receber sem trabalhar, mesmo que tenha de repartir setenta por cento do ganho com o político corrupto. Não é interessante ter salário integral. Assim perderia a condição de pobre.
Na história recente do Brasil, depois de Getúlio Vargas, que foi o "Pai dos Pobres", só mesmo Lula compreendeu a alma paupérrima. Criou o "salário pobreza" e deixou todo mundo feliz. Ninguém precisa fazer nada. Só provar que é pobre, que tem filho, que o filho está matriculado em uma escola de pobre. Provando recebe um cartão para garantir o azeite do feijão, o gás de cozinha, mesmo que não tenha fogão, e a pinga do domingo.
E o pior é imaginar que o Governo, formado por políticos que adoram pobres, considera qualquer um que ganhe dez mil reais por ano um ricaço. Eu disse DEZ MIL POR ANO. Sou milionário! Ganho um pouco mais de dez mil por ano. E porque não gosto de pobre o Estado pilha compulsoriamente de meu salário cerca de trinta por cento.
O imposto que pago, desconfio, vai garantir a alegria do pobre. Por isto não tenho segurança, não tenho escola para meus filhos e netos, não tenho atendimento de saúde, não tenho estradas... Não tenho nada, enfim. O pobre também não tem. E sequer pode comprar em casas especializadas, como eu.
Em compensação tem alegria. Tem um coração generoso para agradecer o prêmio do "bolsa-miséria". Contenta-se com uma ninharia. Confia nos políticos e orgulha-se quando recebe um aperto de mão.
Pensando bem é melhor mudar meus conceitos. Pobre sabe ser feliz.

sábado, agosto 12, 2006

A INFLUÊNCIA DO ÍNDIO QUE NÃO SABIA CONTAR

Não sei bem onde vi, mas é certo que um desses antropólogos estudiosos afirmou e provou que os índios brasileiros, lá na época do descobrimento, só sabiam contar até dois. E como fazia o índio pescador para dizer, por exemplo, que pegou dez peixes? Eu respondo: simplesmente ele não pescava dez peixes. O índio era ecologicamente correto. Só matava o que podia consumir. Bobagem, diria o antropólogo. O índio pescador pescava dez peixes, sim. Na hora de contar vantagem ele dizia "só com uma flechada espetei dois e dois e dois e dois e dois peixes". Bom mas não era de história de pescador que queria me ocupar hoje, principalmente de pescador que não sabe contar além de um par de vantagens. Se bem que, como arremedo de sociólogo que tentei ser, posso apontar a influência nefasta desta dificuldade dos nossos índios no Brasil de hoje. Os políticos por exemplo, na grande maioria, têm uma enorme dificuldade de pestar contas da riqueza amealhada em pouco tempo. Não sabem contar. Talvez por isto percam a noção da roubalheira. As instituições de pesquisa do Governo também têm a influência do índio. Medem, pesquisam, checam os números e na hora da divulgação aparecem as aberrações: a inflação não evolui embora o trabalhador sinta a diminuição do poder de compra e o aumento da dívida na bodega da esquina. Sem falar em outras dificuldades administrativas. Os impostos novos criados nunca são suficientes para cobrir as dívidas oficiais. Veja-se o problema da Previdência. Enfim, o que eu queria dizer mesmo é que sou ainda um índio primitivo. Não consigo entender nem fechar as contas nos discursos que ouço nesta campanha eleitoral. O Brasil que até ontem não tinha dinheiro para nada, para nenhum investimento, hoje aparece, nas promessas políticas, com capacidade para gerar milhões de empregos, para investir na indústria, na saúde, na segurança e no que mais aparecer. Desconfio que todos os candidatos têm origem européia. Lula não conta. Ele é analfabeto confesso e orgulha-se de não ter recuperado o tempo perdido estudando quando não tinha nada para fazer. (postado sem revisão)

sexta-feira, agosto 11, 2006

DESCULPA ESFARRAPADA MAS EXPLICA

Juro que não é preguiça, nem falta de interesse. A ausência de novas postagens ou atualização deste Blog deve-se a um problema técnico. Aliás dois problemas. Além do técnico estou com tempo curto para fazer o que mais gosto: escrever abobrinhas em cima de fatos sérios. Em três oportunidades fiz longos textos, revisei e na hora de autorizar a postagem a máquina travou. Reiniciei, repeti o texto e novamente a bruxa deu a volta por cima. Desestimulante isto. Segundo os entendidos o Blog já está pesado, com muitos arquivos. Vou tentar corrigir. A falta de tempo deve-se ao processo eleitoral. Não sou candidato, claro. Mas cuidar da cobertura jornalística de uma eleição, tendo que estudar cada uma das inúmeras leis, para não escorregar, é tarefa que exige dedicação. E por falar erm eleição, para você não pensar que deixei de dizer alguma coisa interessante, repasso o questionamento do genial Millôr: "Você vai votar no candidato corrupto ou no que ainda não é?" (Agora é torcer para que a postagem dê certo...)