Vi hoje, com tristeza, a notícia da morte do escritor egípcio Nagib Mahfuz. O conheci em 1988, com as notícias de que era o escolhido para receber o Prêmio Nobel de Literatura. O fato ganhou mais de uma semana de mídia, porque Mahfuz foi o primeiro escritor de língua árabe a conquistar o Nobel. E ainda é o único.
Corri para as livrarias imediatamente com o nome dele para garimpar alguma obra, antes que a fama o tornasse inacessível. Encontrei “As codornas e o outono”, escrito, se não de engano, nos anos setenta. Achava que iria encontrar uma narrativa rebuscada, chata. Mas apostava também na sabedoria árabe em contar histórias. Tinha em mente o fascínio com que se lê e se entende “As Mil e Uma Noites” , um clássico da literatura árabe. Quem não ouviu falar de Ali Babá e os Quarenta Ladrões, Aladim e a Lâmpada Maravilhosa, O Príncipe do Oriente, Omar e Yasmin, A História de Mobarak?
Em Mahfuz tem-se a certeza que a arte de contar histórias nasceu mesmo no oriente e os árabes a perpetuaram. O melhor do Ocidente, Homero, diante dele, é ficha grande. Mas precisaria de um grande pouco mais para chegar perto. Exageros à parte!
O romance “As codornas de outono” mistura ficção e realidade. É envolvente. É uma história simples de um cidadão que sonhava ocupar um cargo público de influência mas, diante da Revolução Nacionalista Egípcia, ele faz as escolhas políticas erradas. Tem a vida transformada num inferno e se obriga fugir do país. O Romance começa exatamente com o incêndio do Cairo, que prenuncia a revolução. E é mais apaixonante porque se nota ser a obra uma metáfora perfeita da sociedade egípcia, onde o ideal do cidadão é ser funcionário público.
Além de tudo isto se passeia pelo Cairo. E o Egito torna-se íntimo do leitor. Nagib Mahfuz tem outras obras traduzidas para o Português. Provavelmente entrarão na lista das mais vendidas, agora com a sua morte. Lembro de dois títulos que ainda não li: "Miramar" e "A Batalha de Tebas".
Mahfuz é festejado em todo o Ocidente mas as suas obras foram boicotadas em paises árabes porque ele, embora declarasse total solidariedade aos palestinos, foi um dos poucos intelectuais árabes a dar apoio aos acordos de paz entre Egito e Israel, em 1979.
Em 1994 sofreu um atentado. Um fundamentalista islâmico o esfaqueou no pescoço depois que líderes extremistas o acusaram publicamente de estar contra a religião. Teve graves sequelas, como a paralisia de um braço. Morreu hoje, segundo as notícias, de parada cardíaca depois de uma longa internação hospitalar. Tinha 95 anos de idade.
A última lembrança que guardo de Mahfuz foi a notícia de um encontro que teve com o brasileiro Paulo Coelho.
(postado sem revisão)
Nunca tinha lido o seu blog. Parabéns pelas idéias. Ganhou um novo leitor.
ResponderExcluirCamarada Marcus vou mandar pra você três livros do Nagib. Eu concordo com a sua paixão pelo texto dele. Sobre o encontro com Paulo Coelho fiquei supercuriosa. O que será mesmo sobre o que conversaram? Bom mas isso deve ser o resquício das minhas posturas radicais. Ah e não nos deixe mais esperando por um novo texto seu.
ResponderExcluirCaro jornalista Marcus Cavalcante, direi aqui o que nao tive oportunidade de dizer, por nao postar corretamente um comentario. Mas o que vc escreveu sobre o premio nobel Nagib Mahfuz foi tao poetico, sensivel que me faz reportar ao mundo das mil e uma noite onde a cada dia o rei espera ( no caso o leitor ) pra se deliciar e ate quem sabe rir da acidez com que vc faz seus textos. Vc toca na ferida mesmooooo.
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