Final do Governo Freitas Neto. O governador estava saindo para desincompatibilizar-se e deixou o vice, Guilherme Melo, para terminar o mandato. O último ato foi festivo, na cidade de Uruçuí. Freitas Neto assinou, com direito a discursos e garantias, a ordem de serviço para construção da estrada Uruçuí X Jerumenha.
Acompanhei a solenidade como repórter. Ouvi das lideranças políticas que “finalmente o governador estava atendendo a uma aspiração de mais de vinte anos do povo da região”.
Nas cercanias do palanque oficial ouvi de pelo menos dois populares idosos: “...toda eleição é a mesma coisa. Prometem fazer estrada e nada. Duvido que ela seja feita...”
Apostei que seria. Vi à saída da cidade um movimento de máquinas intenso e até uns dez quilômetros de terraplenagem.
Voltei a Uruçuí seis meses depois. Rodei sobre um bom pedaço de asfalto e o resto lama. Assim mesmo acreditei que a estrada seria feita até o próximo Governo. Mais de dez anos se passaram. Estou perdendo a aposta.
Na última sexta-feira tentei ir a Bertolínea, entre Jerumenha e Uruçuí. O máximo que consegui foi chegar ao povoado Barra do Lança. O que vi foi uma cena surrealista: trinta e duas carretas cheias de soja atoladas até o eixo, duas carretas tombadas e a soja abandonada pelos carreteiros. Um número expressivo de carros de passeio impedidos de trafegar. Buracos, ônibus fazendo metade do percurso e passageiros andando de dois a três quilômetros dentro da lama para continuar viagem em outro ônibus lá do outro lado do atoleiro.
Procurei vestígios da estrada prometida. Nada!
Em Teresina, de volta à civilização, acionei a produção da TV Clube para saber o que estava sendo feito para livrar o prejuízo dos produtores da região e dos carreteiros. No Governo do Estado os diligentes assessores informaram que o problema era do Governo Federal pois ali era parte da BR 343. Uma estrada federal, portanto.
No DENIT os diretores que estavam trabalhando nesta segunda-feira, depois do feriado da Semana Santa, informaram que não sabiam de nada e só quem poderia falar sobre o assunto seria o diretor geral que está viajando.
Ninguém está nem aí... O Piauí está separado por buracos. O Governo do Estado diz que não tem nada a ver com isto e o Governo Federal, que não devia ter muita coisa a ver com isto, não pode falar.
Fica a saudade dos tempos em que campanha eleitoral se fazia percorrendo os municípios de carro. O avião agiliza a visita dos candidatos ao povo mas os cega para os problemas palmo a palmo das estradas.
Em 1968, no vigor dos 16 anos, um anônimo entre centenas de estudantes que queriam mudar o Brasil, resolvi que queria ser jornalista. Em 69 bati à porta do Jornal do Piauí, onde fiquei como auxiliar de revisor. Em 70 já estava sugerindo notas e artigos. Lutei pela liberdade de expressão sentado no banco dos réus. Guardo uma lista imensa de coisas planejadas e algumas realizadas. Espero que esta nova incursão, manter um blog sempre atualizado, seja duradoura.
Imagina se a região não tivesse representantes políticos. Lembro dois, se não for inexato: Chico Filho do Governo e Leal Júnior da Oposição. Mas como você lembrou, devem andar de avião.
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