Em 1968, no vigor dos 16 anos, um anônimo entre centenas de estudantes que queriam mudar o Brasil, resolvi que queria ser jornalista. Em 69 bati à porta do Jornal do Piauí, onde fiquei como auxiliar de revisor. Em 70 já estava sugerindo notas e artigos. Lutei pela liberdade de expressão sentado no banco dos réus. Guardo uma lista imensa de coisas planejadas e algumas realizadas. Espero que esta nova incursão, manter um blog sempre atualizado, seja duradoura.
sexta-feira, março 10, 2006
É feliz quem vive no Piauí
Entre as várias atribuições do coordenador de comunicação do Governo do Estado do Piauí, Sílvio Leite, tem uma inédita: fazer o piauiense se apaixonar pelo Piauí.
Sendo de outro Estado e, tendo se apaixonado por esta terra, onde tem negócios e prestígio, Silvio acha que falta auto-estima aos da terra. Brilhantemente contratou uma agência, mandou desenvolver uma capanha e fez divulgar tudo com pompa e rima: "Piauí. É feliz quem vive aqui"
Depois veio uma pesquisa com a pergunta "você trocaria o Piauí por outro Estado?". Já se sabe que a imensa maioria respondeu NÃO.
Ninguém questionou. Nem mesmo o fato de que para ter auto-estima o piauiense teve que desembolsar algum. Claro! A campanha foi toda feita com dinheiro público. É a lógica do capitalismo: diversão e lazer são coisas caras.
No lançamento da campanha eu mesmo, como cearense de nascimento mas piauiense de coração, achei tudo uma maravilha. Depois, já em casa, comecei a me questionar por que não gostava tanto da minha terra como deveria. Afinal Fortaleza, no Ceará, é um paraíso para quase todo o Brasil.
Eureka! Lá não tenho o emprego que tenho aqui no Piauí, Não tenho os amigos que tenho aqui, Não tenho o prestígio que tenho aqui e as oportunidades que tenho aqui.
Aí me pesquisei: você trocaria o Piauí pelo fim do mundo se lá houvesse um grande emprego, com oportunidade de crescimento profissional? Claro que sim.
A ciência da humanidade comprova: O homem se adapta ao meio. Vive para evoluir e a sobrevivência é o que determina as escolhas.
Daí me atrevo a dar um conselho ao Silvio.
Secretário reuna os políticos e diga a eles que a melhor forma de fazer o povo rir e gostar do lugar onde está é dando a ele oportunidade de trabalho, qualidade de vida. Aí a felicidade será duradoura e não passageira como os vts de trinta segundos e as meia-páginas de jornais.
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Justa a interpreta��o. N�o � s� piauiense que deixa a terra para ganhar a vida. Exemplo: aqui tem muita gente de fora.
ResponderExcluirEsse é meu pai!!! Jornalista pensante e crítico9coisa rara). Depois do seu, o blog do Noblat já era. Beijos e boa sorte!
ResponderExcluir“Primeiro eu tenho que amar a mim mesmo para depois amar os outros”. Perdão pelo uso do desgastado clichê (não quero ofender seu texto maravilhoso), mas vou me utilizar dela pra emitir minha opinião sobre o tema abordado por você. Acho que falta às pessoas, neste caso ao piauiense - mais do que amor ao seu estado - é amor próprio mesmo, é vontade de construir um lugar melhor pra se viver e ser feliz nele. Sem isso não há lugar que resista e muito menos campanha que dê resultado.
ResponderExcluirÉ feliz quem vive aqui, quem trabalha, ganha o suficiente para garantir o mínimo de conforto, segurança e bem estar a si e a família, pode investir no lado intelectual, na imagem, isso também conta, a aparência, afinal vivemos pra ver e sermos vistos;
ResponderExcluirÉ feliz quem vive aqui, quem pode dispor de tempo e recursos para investir em amizades, ter amigos é um grande negócio que alimenta a alma, mas precisa ser alimentado, regado não só a palavras sinceras, bonitas, discursos afetuosos, ou às vezes simplesmente desinteressados, taxados como o momento besteirol do dia, mas que faz bem a todos. Ter amigos é uma conquista rara, mas pode custar caro? Que o diga quem vive se encontrando com os amigos em cafés nos shoppings, encontros regados a uísques importados, todos bem vestidos, narrando os momentos que desfrutam nas altas rodas da sociedade e da política. A gargalhada rola solta e ninguém se preocupa com a conta, e nem é da minha conta;
É feliz quem vive aqui, quem se encontra preparado para pegar o bonde andando das oportunidades, quando elas chegam é sem avisar, e mesmo diante de tanta luta contra o preconceito as exigências do mercado são muitas e excluídoras, a ponto de deixar de lado um número infinito de infelizes e pobres coitados;
É feliz quem vive aqui e em qualquer outro lugar, quando qualquer um se sente gente, e pode desfrutar do que a cidade oferece, e se não oferece deixa a oportunidade para se construir, mas é preciso estar preparado para construir;
É feliz quem vive aqui e em qualquer outro lugar, quando se está inserido nos grupos sociais, quando nos sentimos importantes pelo que somos e pelo que fazemos;
Mas para sermos ou fazermos alguma coisa temos que voltar ao princípio da nossa existência, de lá até aqui o caminho que percorremos pode ser decisivo, para termos essa oportunidade profissional que deslanche em uma carreira de sucesso.
Quem não tem educação, saúde, trabalho, moradia digna, não tem cidadania, não sabe o que é auto-estima, não pode ser feliz nem aqui nem em nenhum outro lugar;
Quem pode escolhe o caminho pra caminhar, o que quer ser e o que vai fazer, assim é mais fácil sem feliz em qualquer lugar.