terça-feira, outubro 31, 2006

CELULAR CLARO. A VIDA POR UM CHIP

Acredito em slogans. Principalmente quando são bem pensados. O da operadora de celulares Claro, por exemplo, é um primor: “Claro, a vida na sua mão”. Quem tiver uma linha celular Claro e precisar de alguma forma dos serviços só não comete o suicídio se estiver muito bem resolvido emocionalmente. Falo com o conhecimento de quem passou pela experiência. Vou tentar resumir o martírio de que fui vítima. Dia 15 de setembro, em Brasília, verifiquei a falta de sinal no meu aparelho. Fiz a primeira ligação para o atendimento. O número é 1052, de qualquer telefone, segundo a Claro. Depois de intermináveis segundos ouvindo instruções teclei o 9, para falar com um atendente: - Bom dia, meu nome é Fulana, com quem eu falo? - Bom dia Fulana. Meu nome é Marcus. - Senhor Marcus qual o número de seu telefona com o código de área? - Pois não. Meu número é... (passei o número) - Mas este não é o telefone que o senhor está usando agora! - Claro que não. Ele está com problema e não consigo ligar. Estou fora da minha área de cobertura e está aparecendo uma mensagem que o cartão SIM não foi reconhecido. - O senhor lembra se mexeu no PIM do telefone? - Como assim? O que é PIM? - PIM é um código que o senhor recebe. O Senhor mexeu? - Não devo ter mexido porque nem sei o que é. - O senhor lembra se o aparelho pediu para digitar o PIM ou o PUK em algum momento? - Uai, moça, e o meu telefone faz isto? - Senhor esses são códigos de segurança. - Desculpa. É que não entendo muito bem dessas coisas. Mas como eu posso encontrar esse PIM e esse PUK? - Estão no cartão do seu chip senhor. - Mas eu não tenho chip senhorita. (aqui já começava a irritação natural de quem é sabatinado com uma linguagem difícil de compreender) - Sei, senhor. Mas seu telefone tem um chip. Por favor retire e coloque o chip novamente para ver se volta ao normal! - Mas tirar o chip de onde, moça? Eu nem sei se o celular tem um chip. - Qual é a marca do celular, senhor?
Desesperado, recorri a uma saída honrosa: - Eu posso levar o aparelho em um posto da Claro? A única coisa que sei de celular e fazer e receber ligação e colocar para carregar. - Fique à vontade senhor. Se não der certo o senhor volta a ligar e a Claro agradece por o senhor ter ligado... Terminei a conversa com um gosto de derrota. Como pode? Uso celular há tanto tempo e nem sabia que tinha um PIM, um PUK, um chip? Devia recorrer ao meu neto, que tem quatro anos de idade. Mas como estava distante dele o jeito foi ir a um posto de atendimento mais próximo me informar. Aprendi tudo sobre a nova tecnologia GSM. Descobri também que a bateria é móvel e que tem um chip embaixo. A única coisa que não deu certo foi retornar os serviços no aparelho. Deixei para resolver o problema em Teresina. Dia 19/10, sentindo-me em casa, minha arena, fui à loja Claro. Serviço Autorizado, com garantia. Certeza que tudo seria resolvido no ato. Pra começar entrei numa fila concorrendo à atenção de uma funcionária da informação com mais onze pessoas. Quatorze minutos de espera. Quando cheguei lá que iniciei a conversa a mocinha digitou alguma coisa, puxou uma senha e pediu gentilmente que eu aguardasse a chamada sentado. Ih! Mau sinal. Esperar sentado é mau agouro. Tudo bem. Comportei-me como quem não tinha mais nada a fazer e aguardei trinta e seis minutos sentadinho, olhando os folhetos de propaganda de telefone e aprendendo os milagres das novas tecnologias. Celular também serve para fazer fotografia, gravar conversa do vizinho, mandar e-mail. Sobre PIM e PUK, nada! Minha vez! - Bom dia, moça. Eu estou sem comunicação no meu aparelho desde o dia 15 e só aparece esta mensagem aqui na tela quando eu ligo. - Ah senhor. O seu chip queimou. O senhor vai bem ali naquele balcão. Levanta qualquer um dos terminais fixos e fala direto com a Claro. - Mas eu já fiz isto e não consegui me entender com a moça porque entendo pouco da linguagem tecnológica. Você pode me instruir de como vou me comportar agora? - Diga apenas que o seu chip está queimado e quer autorização para trocar. Depois que o senhor tiver a autorização, peça o número do protocolo que a gente providencia rapidinho. - Muito agradecido. Você foi muito gentil. Obrigado mesmo, viu? - Não por isto, senhor. É um prazer poder ajudar. Fui ao telefone, falei com a moça do 1052, depois das chateações iniciais de ouvir as instruções e passar o número do telefone etc. etc. - Ocorre que meu chip queimou, segundo o pessoal aqui da loja Claro, onde estou no momento. Você pode me dar uma autorização para troca e o protocolo? - Qual é o número do seu chip novo senhor? - Como meu chip novo? Eu só tenho o queimado. - Mas eu só posso lhe fornecer autorização se o senhor já tiver comprado um chip novo. - Mas moça aqui na loja disseram que eu tenho que ter uma autorização para trocar o chip depois. - Desculpe senhor. Mas autorização só é possível depois que o senhor tiver o número de um chip novo. O senhor compra e depois liga para nós, sim? - Desculpe a insistência, senhorita. Mas aqui na loja Claro me disseram o contrário, Você pode me dizer por que essa divergên... - O senhor compra o chip a liga. Obrigado por ter ligado, tenha um bom dia. - Desculpe a insistência... Voltei ao balcão de informação da loja. Reclamei da instrução mal passada e a moça mesmo sem querer reconhecer que havia se enganado, autorizou a compra. Deu-me uma nova senha para entrar na fila do atendimento de venda. Após mais quinze minutos consegui chegar lá. Comprei o maldito do chip virgem e tive a primeira visão da coisa. Um cartão do tamanho de um cartão de crédito, com um cartãozinho interno picotado, para ser destacado. Tipo um comprimido de medicamento na sua cartela. Aperta do lado aposto que sai. Olhei, li as instruções. Descobri finalmente onde estavam o PIM e o PUK no novo chip e fui contente para casa, de onde planejei restabelecer a linha do meu inseparável celular... Agora já um pouco abandonado. Sim porque depois de cinco dias descobri que se pode viver sem esse aparelhinho miserável que cria dependência. Que nem droga... Ah e por via das dúvidas já experimentei e traguei. Só que não gostei. Banhado e arejado, deitado em uma rede cheirosa, liguei novamente para o já fatídico 1052. - Fulana falando, bom dia. Com quem eu falo? - Meu nome é Marcus - De-me o número de seu celular com o código de área, senhor? Passei o número conforme o pedido. - Em que posso ajudar? - O chip de meu celular queimou e eu já falei com vocês aí para comprar um novo chip. Estou com ele aqui na mão e quero instalar. - Por favor me dê o número do protocolo, senhor. - Mas que protocolo? - Quando o senhor falou a primeira vez com a Claro alguém fez um protocolo. O senhor pode me passar o número? - Não posso porque não tenho. Disseram-me para comprar o chip e depois ligar. - Sei, senhor, mas foi aberto um protocolo e o senhor não deve ter pedido o número. - E como eu faço agora, se não tenho esse número? Se fui instruído diferente? - Sinto muito, senhor. Para eu estar verificando o problema tenho que ter o protocolo. - Tudo bem, moça, por eu estar de saco cheio vou estar desligando. Depois eu vou estar ligando novamente para estar sendo atendido por outra pessoa. A que horas a senhorita não estará aí para que eu não esteja correndo o risco de ser atendido novamente pela sua má vontade? (Perdi a calma? Experimenta falar com o 1052) - Desculpe, senhor, a Claro agradece a sua ligação... As atendentes são irritantemente bem educadas. Não mudam o tom. São robotizadas. Não perdem a postura. Quanto mais desesperado o cliente, mas formais elas ficam. Dei-me conta que estava sendo deselegante, me acalmei e mudei a estratégia na próxima ligação. Antes de qualquer pergunta da atendente já me identifiquei, dei o número do celular com problema, disse que já havia comprado o chip por recomendação da Loja Claro em Teresina e que estava ligando apenas para habilita-lo. Ofereci inclusive o número do maldito. E foi aí que ouvi a pergunta que me fez ficar de excelente bom humor: - O senhor está ligando deste celular ou de outro número? - Como? Ah, por favor aguarde um instantinho que eu vou verificar... - Desculpe a espera. Agora que eu vi que estou ligando de um celular emprestado. O meu, como já lhe disse, está com problema. E é disso que estava falando. Mas não ligue, por favor. Eu sou mesmo muito distraído. - E em que posso ajudar, senhor? - Que bom que você perguntou, moça. Como já falei, eu troquei o chip do meu aparelho (dei o número novamente) e a loja Claro em Teresina mandou eu ligar para vocês aí para registrar o novo chip. - Certo senhor. No verso do chip tem um número. O senhor pode me passar? - É o mesmo do código de barras. Pode ser o do código, para eu não ter de abrir de novo o aparelho? - Não senhor. Por favor leia o número no próprio chip. Passei o número, repeti e pedi confirmação. E perguntei já comemorando, a que horas poderia ter meu celular de volta. Triste resposta. - Senhor, por medida de segurança, o seu celular será reabilitando em até setenta e duas horas. O senhor me passa um número de linha fixa para que a Claro possa estar confirmando seus dados e os dados de seu aparelho? Passei prontamente o número da linha fixa e nem notei que SETENTA E DUAS horas era tempo grande, que correspondem a cinco dias virados na meia noite. Achei que era só formalidade, também medida de segurança. Só estava mais interessado, agora, em obter, desesperadamente, e antes que ela desligasse, o número do protocolo. Consegui! Claro que nem vou encher o saco de ninguém narrando aqui as diversas ligações que fiz para o 1052, abanando o protocolo reclamando da falta de compromisso da Claro com o seu cliente mais exemplar, no caso eu. O certo é que ontem, dia 30 de outubro, ao verificar cedo que o serviço ainda não havia retornado, decorridos dez dias do momento em que coloquei o novo chip e consegui o número do protocolo, desisti da Claro. E também de ter a vida em minha mão. A vida pertence a Deus segundo a religião católica. Não fica bem desistir dela tão facilmente.
Estou saltitante, alegre e satisfeito com um novo telefone à mão. Da VIVO, para confirmar que sobrevivi. Pelo menos até quando precisar trocar o chip, ou outra rebimboca qualquer. Nem sei se tem coisa mais moderna que o chip... vai lá que tenha e eu já esteja desatualizado!

terça-feira, outubro 24, 2006

UM OLHAR SOBRE TERESINA

Coisa boa é ser dono do nariz. Trabalha-se no dia que quer, acorda-se na hora que o organismo liberar. O ruim é a falta do que fazer nas horas seguintes. Se bem que livros podem muito bem eliminar o vazio entre o acordar e a hora do almoço. Esta foi a minha experiência das últimas duas semanas, na folga que me permiti para recuperação do voto. Ou melhor, das eleições. E nesta folga, como não podia ir muito longe, passei uma semana andando – de carro que é menos cansativo, por Teresina. Fiz um reencontro com os tempos de repórter, quando me gabava de conhecer a cidade de ponta a ponta. Me perdi. Impressionante como a cidade cresceu em todas as direções. Tentei fechar os olhos para o feio. Ver apenas o belo, com o espírito poético. Juro que não consegui. Claro que a cidade é bonita, não há negar. O feio fica por conta da falta de sensibilidade do poder público, juntada aos interesses eleitoreiros e às desculpas de não se querer criar problemas sociais. Veja-se, por exemplo, a situação da margem do rio Parnaíba, em toda a extensão da avenida Maranhão. Por mais que a se plantem árvores e planejem urbanização há sempre um desempregado reivindicando a sombra para trabalhar como autônomo. A avenida é hoje um imenso lavatório de carros. Os lavadores, depois que conseguem ligar energia elétrica para as improvisadas máquinas, escolhem também a decoração da área ocupada. Existem lá tendas de palha, de molambo, de restos de propaganda eleitoral, de latas, de zinco ou plástico. O estilo é marmota, uma grande criação popular. Tudo bem que amanhã ou depois o poder público, se tiver coragem, pode dar um basta na farra. Só não vai poder, com tanta facilidade, é acabar com o monstrengo do elevado do metrô de Teresina, onde estão enterrados alguns milhões de reais. Aquilo, sim, é um atentado ao bom senso, à ecologia. É ainda mais nefasto porque é um monumento ao desperdício do dinheiro público. É um prêmio ao político desonesto. Arrisco dizer que nunca será concluído, que nunca haverá trens para utilizar o monstrengo. Mas enquanto houver próxima eleição e Alberto Silva para defender aquela irresponsabilidade, estaremos todos aplaudindo. Todos, vírgula! Eu estou fora. E a partir de hoje inicio as orações por uma santa que resolva o problema de uma vez por todas, A Santa TNT.