quinta-feira, julho 19, 2007

CRISE AÉREA OU INDECISÃO?

Em alguns dos grandes eventos nacionais ou locais sou acossado, por amigos e leitores, insistentemente desafiado, a falar sobre o assunto. Recebo e-mails e ligações lembrando que este ou aquele fato é um grande mote para um texto. Mas todos sabem que este blog não tem a ousadia de tratar de notícias factuais. Como é o caso da tragédia que envolveu São Paulo, no acidente da TAM. É difícil falar de tragédias. Normalmente quando elas acontecem, salvo raras exceções, a primeira coisa que vai para a cesta do lixo é o bom senso. E nós jornalistas temos uma ânsia despudorada de, em nome de primeiro e melhor informar, cometer erros grosseiros, ferir sem pensar pessoas que normalmente deveriam estar sendo consoladas. Claro que passadas as primeiras horas do impacto, todo mundo se concentra no que é essencial, usa mais a racionalidade. Fiz pelo menos quatro textos para postar neste blog sobre a tragédia. Mas a ousadia faltou-me. Eu expressava em todos aquilo que estamos com receio de dizer, e que pode ser a verdade mais aproximada para o lamentável acidente de Conconhas. E para os leitores que cobram-me uma opinião, copio aqui um comentário que fiz no blog do jornalista piauiense residente em Fortaleza, Nivaldo Ribeiro. http://colonline.blogspot.com/ “Nivaldo tenho certeza que a grande maioria dos brasileiros pensa como você e está da mesma forma indignada. Mas algo me diz que este acidente não teve nenhuma relação com crise aérea ou condições da pista do aeroporto. Claro que não sou nenhum especialista, mas o mínimo de conhecimento aguça meus questionamentos como jornalista:- Se o avião percorreu uma pista de 1,9km em linha reta, praticamente na mesma velocidade do pouso, não houve aquaplanagem.Ou seja, não deslisou na pista.- Também não se pode falar que o freio não funcionou porque a pista estava molhada. Freio de avião é na reversão das turbinas e não nas rodas.- É difícil admitir, porque a TAM vai defender sempre que a aeronave estava em ótimas condições, mas em acidente como este só há duas explicações: falha do equipamento ou falha do piloto. Particularmente acho que o avião estava com muito peso e a decisão do piloto em arremeter foi tomada tardiamente. Se estivesse leve levantaria vôo novamente com metade da potência. E este é o ponto chave.
A unanimidade dos instrutores de vôo repete sempre que um avião pode ser tirado do chão e colocado lá novamente com a menor facilidade por uma criança de dez anos minimamente treinada. O problema é que, como estamos lidando com grandes velocidades, o tempo em que se leva para tomar uma decisão faz a maior diferença. Lamentamos mesmo tudo o que aconteceu e a revolta impensada talvez venha em decorrência das declarações de autoridades petistas, a exemplo de dona Marta. Um grande abraço.”
Este comentário foi postado muito antes de serem liberadas as imagens do aeroporto que mostraram a aeronave acidentada passando em velocidade anormal para um procedimento de pouso, o que reforça a minha opinião.

sábado, julho 14, 2007

A VOZ DEMOCRÁTICA DA VAIA

Não gosto de vaias. Mas reconheço que é a manifestação mais democrática que existe entre todos os povos. Vaia é universal. Tem o poder ilimitado de suplantar, em um mesmo ambiente, todas as outras manifestações a favor. Coloque-se em um estádio de futebol setenta mil pessoas. Vinte mil vaiando e o restante aplaudindo. O que vai aparecer é o apupo. E a vaia é contagiante. Depois que pega ritmo só resta ao vaiado colocar o rabo entre as pernas e sair de fininho. Gosto muito do carioca. Mas reconheço que é um povo metido a besta, cheio de preconceitos. Paulista, por exemplo, pensa que é o dono do mundo. Carioca tem certeza absoluta. Tem uma estátua do filho de Deus e por isto acha que a humanidade começou ali. E na verdade tudo começa no Rio de Janeiro. Principalmente as grandes mudanças políticas do Brasil. O resto do país é apenas caixa de ressonância. A vaia que o presidente Lula ouviu ontem, no Maracanã, é um grande sinal de alguma mudança. O Maracanã é democrático. Por mais que se queira atribuir esta manifestação a grupos organizados, como manda a lógica do PT, ninguém vai engolir. O presidente Lula anda em todos os estados brasileiros. Nas aparições públicas, no contato com o povo, há sempre o cuidado de separar os que aplaudem dos que vaiam. Quem tem faixas rendendo loas vai para perto do palanque. Quem vai ver o presidente para cobrar é separado por um grande cordão de isolamento. Fica tão distante que não tem chance nem de jogar um ovo podre. A estratégia de segurança sempre deu certo, porque o cerimonial é dono da arena. Monta palanque e faz triagem dos que gostam o dos que não gostam do presidente. No Maracanã a arena é do povo. Além da vaia o presidente Lula foi tratado como um Zé Ninguém. Sentiu o gosto amargo da insatisfação popular, escondida nos números frios de pesquisas interpretadas de acordo com vaidade de sua excelência. O presidente foi vaiado todas as vezes em que apareceu no telão ou que se anunciava seu nome. O protocolo foi pras cucuias. Ele não pôde fazer o pronunciamento de abertura dos Jogos Pan-Americanos. O povo não deixou. Foi substituído no papel por Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro. Mas também houve precipitação dos protetores do presidente. Queriam evitar maior constrangimento e o que fizeram, tirando-o de suas obrigações, foi criar um fato histórico. Eu explico: desde o primeiro Pan de 1951, em Buenos Aires, os chefes de Estado são os responsáveis pelo anúncio oficial de abertura. Começou com o argentino Juan Domingo Perón, passando pelo cubano Fidel Castro em Havana (1991), e o norte-americano George Bush em Indianápolis em 1987.
Lula se borrou todo. Saiu do Maracanã cabisbaixo, no mesmo carro, ao lado do governador do Rio, Sérgio Cabral Filho. Que muito pelo contrário estava sorridente e acenando para os eleitores. Mas o presidente tem muita sorte, mesmo sendo vítima de um acachapante chega pra lá. A festa foi tão bonita, tão cheia de nove-horas, tão cheia de novidades, que uma vainha de setenta mil pessoas, para a grande maioria da imprensa, não representou nada. O futuro está perto e o carioca, via de regra, tem razão.

terça-feira, julho 03, 2007

FOFOCA É QUALIDADE DE VIDA

Não discuto com ninguém a seriedade com que lido com a minha profissão de jornalista. Não admito contestação de que sou sério, compromissado com a busca da verdade e dedicado a bem informar. Os meus defeitos são pouco aparentes. O maior deles é detestar fofocas. A despeito de, por amor à minha profissão, ler revistas como Caras, People, National Enquirer e outras que fazem da vida alheia a bolo editorial de cada edição. E igualmente em defesa de ficar bem informado também vejo programas de fofoca na TV. Até ontem eu negava ou escondia este meu lado, digamos assim, voyeur de ser. Eu disse até ontem. Hoje continuo detestando fofoca, principalmente se envolve amigos meus, mas encontrei uma base científica sólida para esta necessidade de querer se informar. Dei de cara com uma publicação espetacular, do inglês Robin Dunbar, que garante, entre outras coisas, que a evolução da espécie depende fundamentalmente da fofoca. Tudo bem, talvez nem seja bem isto que o Dunbar quis dizer, mas que o ensaio dele é uma delícia para explicar o voyeurismo, lá isto, é com certeza. O Título em inglês: "Grooming, Gossip and the Evolution of Language". De cara você vê logo que tem realmente alguma coisa com evolução. Como o meu inglês não passa de alguns vocábulos e técnicas instrumentais, traduzi secamente: para “Asseio corporal, fofoca e a evolução da fala”. Mas corri atrás da obra em outras línguas, apostando que a encontraria em português. Não a encontrei. Mas viva a santa internet. Há um longo artigo em alemão, discutindo as afirmações do professor Dunbar. Ele contesta de certa forma os estudos de antropólogos e lingüistas que creditam a invenção e a evolução da fala à necessidade do homem em desenvolver a caça de maneira mais eficiente. Dunbar garante que os nossos ancestrais desenvolveram a fala simplesmente para fofocar, para se divertir. E tudo começou na necessidade do asseio. Os grupos se reuniam para catar piolho uns nos outros e a tarefa era um tanto monótona. Vai um grunido daqui, outro dali, que foi logo se traduzindo em comando ou comentário. Daí para o tête-à-tête foi um pulo. E o fuxico e o mexerico garantiram alegria e qualidade de vida aos símios nossos tetratataravós. Bem mas isto é uma conclusão minha, para encurtar a conversa longa e professoral da discussão sobre as descobertas do Robin Dunbar. Não sei por que na escola a gente não aprende logo a coisa assim direta, sem muita tese e antítese. Vai-se atrás de tanto conhecimento, em um monte de livros, e joga-se fora o mais natural do dia-a-dia, que é o tempo para fofocar. Agora mesmo os cientistas do mundo todo estão gastando neurônios para provar que a terra está em perigo, por causa do aquecimento global. Talvez seja tempo ainda do homem voltar aos tempos do asseio solidário, piolho a piolho, ti-ti-ti a conversa fora, para se divertir. Falar do rabo do outro, desacelerar a ganância, porque fofoca é qualidade de vida. Virgílio, com a sua “Eneida”, e “Otelo”, de Shakespeare já tinham feito o alerta.