sábado, julho 14, 2007

A VOZ DEMOCRÁTICA DA VAIA

Não gosto de vaias. Mas reconheço que é a manifestação mais democrática que existe entre todos os povos. Vaia é universal. Tem o poder ilimitado de suplantar, em um mesmo ambiente, todas as outras manifestações a favor. Coloque-se em um estádio de futebol setenta mil pessoas. Vinte mil vaiando e o restante aplaudindo. O que vai aparecer é o apupo. E a vaia é contagiante. Depois que pega ritmo só resta ao vaiado colocar o rabo entre as pernas e sair de fininho. Gosto muito do carioca. Mas reconheço que é um povo metido a besta, cheio de preconceitos. Paulista, por exemplo, pensa que é o dono do mundo. Carioca tem certeza absoluta. Tem uma estátua do filho de Deus e por isto acha que a humanidade começou ali. E na verdade tudo começa no Rio de Janeiro. Principalmente as grandes mudanças políticas do Brasil. O resto do país é apenas caixa de ressonância. A vaia que o presidente Lula ouviu ontem, no Maracanã, é um grande sinal de alguma mudança. O Maracanã é democrático. Por mais que se queira atribuir esta manifestação a grupos organizados, como manda a lógica do PT, ninguém vai engolir. O presidente Lula anda em todos os estados brasileiros. Nas aparições públicas, no contato com o povo, há sempre o cuidado de separar os que aplaudem dos que vaiam. Quem tem faixas rendendo loas vai para perto do palanque. Quem vai ver o presidente para cobrar é separado por um grande cordão de isolamento. Fica tão distante que não tem chance nem de jogar um ovo podre. A estratégia de segurança sempre deu certo, porque o cerimonial é dono da arena. Monta palanque e faz triagem dos que gostam o dos que não gostam do presidente. No Maracanã a arena é do povo. Além da vaia o presidente Lula foi tratado como um Zé Ninguém. Sentiu o gosto amargo da insatisfação popular, escondida nos números frios de pesquisas interpretadas de acordo com vaidade de sua excelência. O presidente foi vaiado todas as vezes em que apareceu no telão ou que se anunciava seu nome. O protocolo foi pras cucuias. Ele não pôde fazer o pronunciamento de abertura dos Jogos Pan-Americanos. O povo não deixou. Foi substituído no papel por Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro. Mas também houve precipitação dos protetores do presidente. Queriam evitar maior constrangimento e o que fizeram, tirando-o de suas obrigações, foi criar um fato histórico. Eu explico: desde o primeiro Pan de 1951, em Buenos Aires, os chefes de Estado são os responsáveis pelo anúncio oficial de abertura. Começou com o argentino Juan Domingo Perón, passando pelo cubano Fidel Castro em Havana (1991), e o norte-americano George Bush em Indianápolis em 1987.
Lula se borrou todo. Saiu do Maracanã cabisbaixo, no mesmo carro, ao lado do governador do Rio, Sérgio Cabral Filho. Que muito pelo contrário estava sorridente e acenando para os eleitores. Mas o presidente tem muita sorte, mesmo sendo vítima de um acachapante chega pra lá. A festa foi tão bonita, tão cheia de nove-horas, tão cheia de novidades, que uma vainha de setenta mil pessoas, para a grande maioria da imprensa, não representou nada. O futuro está perto e o carioca, via de regra, tem razão.

5 comentários:

  1. Anônimo5:07 PM

    será que voce está dando mais uma de mãe Diná? Será que agora o Lula vai enfrentar as vaias? O Rio é realmente ótimo.

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  2. As vaias foram sensacionais! Pena que chegaram muito tarde. O cara foi reeleito, né? Mas ele mereceu e esse papo de dizerem que foi armação dos opositores é uma desculpa tão esfarrapada quanto é histórica a manifestação das milhares de pessoas que estavam no Maracanã. Era preciso que todos os que estavam no estádio fossem ligados aos opositores de Loola. E como foi bacana ver o presidente enfiar a viola no saco. Não poderia ter existido lugar nem ocasião melhores. Bem feito! Tomara que vire mania e que daqui pra frente, mesmo com os cuidados do cerimonial da presidência, onde quer que ele dê as caras receba uma ou várias sonoras vaias.

    Um abraço

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  3. Anônimo7:46 PM

    Li dois comentários tirados do evento.
    O primeiro, lido numa camiseta - parte da frente: "PAN 2007". Parte das costas: "EU VAIEI LULLA".
    O segundo, comentado em blogs: "Lulla vaiado no Maracanã por setenta mil pessoas - Não tem preço".
    Que com essa o cara ponha, enfim, os pés no chão. Ele e a porção de bandidos que ocupam cargos públicos no Brasil - do vereador aos ministros do STF.
    Ah se esse fosse um sinal de que nosso povo está acordando?!........

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  4. Também não gosto de vaia e acho que a abertura do Pan não era o momento para elas. Não me restrinjo 'só' ao presidente, mas também as delegações dos EUA, Bolívia e Venesuela que foram vaiadas no Maracanam no momento de seus desfiles de apresentação. Mas é impossível não refletir sobre o fato do Presidente ser vaiado por 70 mil brasileiros, compatriótas e claro, eleitores. Isso é 70.000! Acredito na vergonha, acho que ela modifica alguns seres humanos. E o que dizer então de uma vergonha Panamericana em alto e bom som de U?! Acredito que haverá pelo menos uma deliberaçãozinha que for de Lula, poderia começar com um: o que foi que eu fiz? Quem eu escolhi? O que mais eu 'não sei'? E sendo assim vejo no espelho um risonho canto da boca.

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  5. Num país de 200 milhões de habitantes, o que significa uma vaia de 70 mil pessoas? Um bom começo, meu caro Marcus, um bom começo...
    A propósito, criei vergonha e fiz meu blog que temuma charge sobre a vaia. Vá lá: www.paulo3moura.blogspot.com

    3 abraços.

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