segunda-feira, janeiro 22, 2007

O LULA REINVENTOU O PND

PND era o PAC dos governos militares. PND significava Plano Nacional de Desenvolvimento. PAC, inventado e lançado hoje pelo presidente Lula, significa Programa de Aceleração do Crescimento. Li e reli o PAC lançado hoje. Tentei descobrir, com os meus parcos conhecimentos de economia, de onde sairá o dinheiro para bancar essa proposta milagrosa de investimentos para gerar um crescimento de mais de quatro por cento somente em 2007. Não descobri. O Governo aposta no setor privado. Mas o setor privado aposta no Governo. Aliás o setor privado vem aguardando há quatro anos algumas garantias do Estado para fazer os investimentos que tem vontade. Nenhum empresário tem coragem suficiente de investir em negócios cujas garantias não estão muito claras. Quem tem mais de quarenta anos, ou que sempre foi antenado, sabe o que era o PND dos governos militares. Calhamaços e pacotes de estudos, impressos em papel caro e encadernação chamativa, com um enunciado lindo, com previsões e metas, que no final das contas não passavam de belos discursos escritos por economistas brilhantes no argumento e miseravelmente obtusos na prática. (Tenho 28 volumes do PND em minha magra biblioteca) Estou sentindo um cheiro de PND no PAC petista. O PAC não prevê o controle dos gastos públicos, onde está o ralo da economia brasileira. A única vantagem, bem colocada, são as regras para reajuste dos salários mínimo e dos servidores. Vantagem para o Governo e para a iniciativa privada, diga-se de passagem. Se houver mesmo o crescimento projetado, nenhum trabalhador poderá reivindicar uma fatiazinha de benefício. Está na regra criada agora que isto não será possível. E é regra do Partido dos Trabalhadores. No mais é apostar no imponderável. Aposto que não vai dar certo. Queira Deus que eu esteja errado. E, como dizem alguns leitores do blog, é só mania de malhar o Governo. E tem graça malhar quem está fora do poder?

terça-feira, janeiro 16, 2007

JORNAL IMPRESSO TEM FUTURO, SIM!

A grande pergunta hoje sobre o futuro do jornalismo impresso é se vai ou não acabar. Com a explosão da internet, em que sítios de notícias nasceram de todo modo e tamanho, os setores econômicos começaram a se questionar se valia à pena continuar investindo no jornal, do modo em que ele é concebido hoje editorial e graficamente. Particularmente acho que sim. O jornal impresso terá vida longa. Mas haverá mudanças radicais no modo de impressão. Como já houve ao longo dos últimos dois séculos. Vislumbro, por exemplo, a impressão eletrônica. Não para ler em tela de computador, mas numa telinha fina que o leitor poderá carregar debaixo do braço. E se duvidarem vai haver mecanismo de virar e dobrar a página. As profissões de gazeteiro, distribuidor de jornal, empacotador e outras que vivem para fazer circular a notícia com assinantes e bancas de jornais se acabarão. A de jornalista de impresso, nunca! A internet é lixo puro. Os blogs e sítios de notícias, embora despertem muita curiosidade e acessos irrestritos no primeiro momento, nunca terão, salvo raras exceções, o principal produto que garante o consumo do jornal impresso: a credibilidade. Além da credibilidade o veículo dá comodidade ao leitor. Em uma mesma edição, feita por jornalistas experientes em apurar as notícias, o consumidor terá todas as variáveis de informações: política, economia, esporte, polícia, variedade, cidade, análises nacionais e internacionais, opiniões conceituadas, oportunidade de investimento e o que mais se imaginar para o gosto do leitor. Na internet normalmente os sítios são especializados, quando muito. Porque na maioria das vezes se baseiam apenas em especulações e opiniões de duvidoso conceito. Portanto não passa de mero achismo afirmar que os jornais impressos terão vida curta. Vamos continuar comprando e assinando este tipo de jornalismo, que é o mais consistente. Com a nossa telinha fina, que poderemos comprar ou receber de graça dos grandes órgãos, como fazem as operadoras de celular, teremos on line todo o caldo de informações. E apuradas por quem realmente tem competência. Apostar simplesmente na internet como fonte de informação é apostar no imponderável. Primeiro porque não é absolutamente confiável. Segundo e definitivamente porque a garantia do consumo de notícia é dada pela credibilidade e pela ética de quem a apura.

terça-feira, janeiro 02, 2007

MESTRE EM PERORAÇÃO, EU?

O respeitável professor Aldir Nunes, intelectual e excelente observador político, deu-me a honra da visita a este blog. E, melhor ainda, catucou a minha inspiração. Com as arrumações de final de ano estava dando vez à preguiça no pensamento mais apurado para escrever. O professor Aldir Nunes comentou a postagem anterior, sobre a fraca e improdutiva polêmica que ensaiei abrir com os “artistas piauienses”. O teor do comentário: Esses "artistas" contestadores da vossa "argumentação/peroração" sobre "cultura/folclore" são na realidade uma súcia de analfabetos linguísticos e culturais... No entanto, mestre da peroração... profesor Marcus: a expressão "folklore" (sabedoria popular, traduzida do inglês), literalmente, é cultura!!! Bom... Deixe-me ver como contestar o professor Aldir Nunes, sem tirar os méritos da sua visão sobre cultura. Eu afirmei no texto anterior que não confundo cultura com folclore. Fica mantida a afirmação. Cultura para mim é universal. Por exemplo: Shakespeare emociona e é compreendido por todos os povos, de todas as línguas. Mesmo que o trabalho dele em inglês seja montado por um brasileiro, por um francês ou um haitiano. Uma poesia búlgara, ou árabe, é consumida e entendida mundialmente simplesmente porque é boa poesia. Da mesma forma que poderia não agradar por ser de qualidade duvidosa. O Brasileiro Paulo Coelho(*) é amado e paparicado no mundo todo porque sabe lidar com as palavras, sabe falar de coisas universais, mesmo pensando e tendo toda uma formação cultural brasileira. Bom. Chega de exemplos! Agora vamos ao folclore, que não passa, para mim, de manifestação cultural localizada. A Sônia Terra gingando e soltando a voz no Coisa de Nego pode até agradar em todo o mundo, porque alguém vai achar que ela é africana, daquelas tribos sub-desenvolvidas. Mas garanto que nem todo mundo vai entender o contexto. Nem mesmo a grande maioria dos piauienses. Nós não estamos preparados culturalmente para consumir história através do folclore. Portanto, professor Nunes, continuo defendendo que folclore não é cultura, embora deva ser compreendido como tal. Folclore é folclore e olhe lá! Tem um monte de manifestação cultural aqui mesmo no Nordeste que foi inventado só para inglês ver. Não faz parte das tradições de nosso povo. Tampouco nasceu no berço dos nossos ancestrais. O Bumba meu boi, por exemplo, a que povo pertence? Aos piauienses, aos maranhenses, aos paraenses ou aos mineiros? Mineiro, sim. porque lá também tem um arremedo de Bumba-Meu-Boi. Ou seria apenas uma adaptação do folclore húngaro, onde existe uma história parecida de encantos e magia para proteger os vassalos em suas vontades, contra a arrogância dos senhores feudais? Diferentemente da cultura, um conjunto amplo de características humanas que não são inatas, que se adquire suando muito, pesquisando, tendo a mente aberta para o aprimoramento de valores, o folclore se transmite por osmose. O professor Nunes, ainda no seu comentário, disse que os artistas são contestadores de minha “argumentação/peroração” E diz que sou mestre em peroração. Concordo que faço exercícios de argumentação. Contesto o mestrado em peroração. Não a pratico como verbo intransitivo. Nem como verbo transitivo indireto ou transitivo direto. Perorar é verbo para político. Eu sou apenas jornalista, um especialista em generalidades. E portanto, admito, de cultura duvidosa.
(*) Recorri a Paulo Coelho como exemplo de literatura só para facilitar a compreensão dos que não foram além.
Lembrete: Há um equívoco do professor Nunes na tradução de folklore. No inglês quer dizer realmente sabedoria popular. Mas para traduzir literalmente cultura há uma expressão cognata: culture.