terça-feira, janeiro 02, 2007

MESTRE EM PERORAÇÃO, EU?

O respeitável professor Aldir Nunes, intelectual e excelente observador político, deu-me a honra da visita a este blog. E, melhor ainda, catucou a minha inspiração. Com as arrumações de final de ano estava dando vez à preguiça no pensamento mais apurado para escrever. O professor Aldir Nunes comentou a postagem anterior, sobre a fraca e improdutiva polêmica que ensaiei abrir com os “artistas piauienses”. O teor do comentário: Esses "artistas" contestadores da vossa "argumentação/peroração" sobre "cultura/folclore" são na realidade uma súcia de analfabetos linguísticos e culturais... No entanto, mestre da peroração... profesor Marcus: a expressão "folklore" (sabedoria popular, traduzida do inglês), literalmente, é cultura!!! Bom... Deixe-me ver como contestar o professor Aldir Nunes, sem tirar os méritos da sua visão sobre cultura. Eu afirmei no texto anterior que não confundo cultura com folclore. Fica mantida a afirmação. Cultura para mim é universal. Por exemplo: Shakespeare emociona e é compreendido por todos os povos, de todas as línguas. Mesmo que o trabalho dele em inglês seja montado por um brasileiro, por um francês ou um haitiano. Uma poesia búlgara, ou árabe, é consumida e entendida mundialmente simplesmente porque é boa poesia. Da mesma forma que poderia não agradar por ser de qualidade duvidosa. O Brasileiro Paulo Coelho(*) é amado e paparicado no mundo todo porque sabe lidar com as palavras, sabe falar de coisas universais, mesmo pensando e tendo toda uma formação cultural brasileira. Bom. Chega de exemplos! Agora vamos ao folclore, que não passa, para mim, de manifestação cultural localizada. A Sônia Terra gingando e soltando a voz no Coisa de Nego pode até agradar em todo o mundo, porque alguém vai achar que ela é africana, daquelas tribos sub-desenvolvidas. Mas garanto que nem todo mundo vai entender o contexto. Nem mesmo a grande maioria dos piauienses. Nós não estamos preparados culturalmente para consumir história através do folclore. Portanto, professor Nunes, continuo defendendo que folclore não é cultura, embora deva ser compreendido como tal. Folclore é folclore e olhe lá! Tem um monte de manifestação cultural aqui mesmo no Nordeste que foi inventado só para inglês ver. Não faz parte das tradições de nosso povo. Tampouco nasceu no berço dos nossos ancestrais. O Bumba meu boi, por exemplo, a que povo pertence? Aos piauienses, aos maranhenses, aos paraenses ou aos mineiros? Mineiro, sim. porque lá também tem um arremedo de Bumba-Meu-Boi. Ou seria apenas uma adaptação do folclore húngaro, onde existe uma história parecida de encantos e magia para proteger os vassalos em suas vontades, contra a arrogância dos senhores feudais? Diferentemente da cultura, um conjunto amplo de características humanas que não são inatas, que se adquire suando muito, pesquisando, tendo a mente aberta para o aprimoramento de valores, o folclore se transmite por osmose. O professor Nunes, ainda no seu comentário, disse que os artistas são contestadores de minha “argumentação/peroração” E diz que sou mestre em peroração. Concordo que faço exercícios de argumentação. Contesto o mestrado em peroração. Não a pratico como verbo intransitivo. Nem como verbo transitivo indireto ou transitivo direto. Perorar é verbo para político. Eu sou apenas jornalista, um especialista em generalidades. E portanto, admito, de cultura duvidosa.
(*) Recorri a Paulo Coelho como exemplo de literatura só para facilitar a compreensão dos que não foram além.
Lembrete: Há um equívoco do professor Nunes na tradução de folklore. No inglês quer dizer realmente sabedoria popular. Mas para traduzir literalmente cultura há uma expressão cognata: culture.

8 comentários:

  1. Anônimo3:57 PM

    Como cultura duvidosa, camarada Cavalcante? Quem sabe argumentar como você não pode ser modesto, rapaz. Feliz pelo seu retorno. Um maravilhoso 2007 para você com muita inspiração.

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  2. Anônimo6:24 PM

    Sumido, hein, mestre?
    Olha, li e guardei silêncio sobre os dois últimos posts. Não quis entrar no debate (se é que se pode assim considerar a celeuma que vc patrocinou), porque penso nisso como de uma inutilidade arretada. Parece coisa de petista, de muita conversa e resultado Zero. Mas, caro Marcus, não seria melhor se se começasse a produzir, a dar ao povo alguma sabedoria valiosa, melhorando sua capacidade avaliativa - que anda abaixo do razoável-, ao invés de discutir se folclore é cultura ou passatempo?
    Para mim, e voltemos lá para o princípio da celeuma, Maria da Inglaterra não passa de uma gozação, uma brincadeira de alguém de espírito largo, que a jogou num palco para divertir aos notívagos menos atentos, frios de aplausos. A única coisa dela que se salva, vestindo-a com o emblema artístico, é a ousadia. Ela definitvamente não tem medo de se expor ao ridículo, como certos "artistas" bem conhecidos o fazem, subindo aos palcos. Ou então acredita mesmo que é uma artística.
    Sei lá, mas depois desses últimos acontecimentos que se vê por aí, onde bandido vira autoridade e alto defensor dos desvalidos, tudo é possível. Coisas do Brasil.
    Deixa o tempo trabalhar.
    Então, vamos produzir?

    Um abraço, e feliz 2011!!!

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  3. PARA PAULO CHAVES: Concordo com você, caro amigo, que este assunto é de uma inutilidade arretada. Mas como escrevo só como exercício de pensamento, e na maioria das vezes para me divertir com a interação dos leitores, mais com as puxadas de orelha e menos com os elogios, vou tocando o barco. Mesmo porque seria muita pretensão querer ir além em um blog de pouquíssima abrangência. Felizmente tenho o carinho dos amigos e a atenção dos que também gostam de se divertir com as minhas idiossincrasias. Ou com os raros momentos de preocupação com os assuntos que merecem muita seriedade e equilíbrio jornalístico.

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  4. Anônimo12:28 PM

    A inutilidade não é das tuas palavras, mas do "debate". Vindo de vc muito pouca coisa tem o ar inútil. Até pq tua opinião soma, ao invés de postergar o vazio do lenga-lenga.
    Vc tem um texto explêndido sempre, que por si só fala alto e se impõe.
    Graças a Deus!!!

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  5. Anônimo5:48 PM

    Só para registrar a minha visita por aqui (e fz tempo que não faço isso), achei aquele texto sobre o pum das vacas uma baboseira. Verdade! Oh, besteira, escrever sobre isso! E não me leve a mal. Não quero ofender o seu ego (que é bem grandão), ms é que o tema é realmente inútil.

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  6. PARA CRIS: Como ofender o meu ego? Levar a mal? Pelo contrário. Você me excita... a escrever outras besteiras. Só assim terei a honra das suas observações.E quer saber mais? Sou masoquista. Gosto mesmo é de levar bronca e reprimenta dos visitantes. É por isto que não uso a ferramenta que permite censurar os comentários. Vale a opinião do leitor. Elogio é desnecessário. Eu sei que sou o cara e isto já alimenta o meu ego.

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  7. Anônimo2:13 PM

    Vamos por partes: 1) Não tenho a intenção de excitá-lo a escrever sobre besteiras. Posso ser uma vítima sua. Deus me livre! 2) Não o reprimi, não o elogiei. Só fiz uma observação em relação ao texto seu que, cá pra nós, deve ter sido um "pumsão". 3)Se vc é masoquista, então deve está sofrendo por só receber elogios, já que a maioria dos comentários que aqui estão são derretidos por você... 4)Por fim, uma pergunta: Que cara é vc?

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  8. Anônimo8:38 PM

    Usei "mestre da argumentação/peroração" no sentido de "argumentar" clasicamente e "perorar" como pequeno discurso acabado,pois, assim nos ensina, outro "Grande Mestre", o Aurélio... Jamais quis tornar polêmica a universalidade do folklore... Cultura...
    Aldir Nunes

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